terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

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ROUGE

Sempre tivera atração por vermelho. Ainda menina, invejava “Chapeuzinho Vermelho”. Crescidinha, a paixão pela cor aumentou: roupas, sapatos, batom, unhas, até o carro era o velho Mustang-cor-de-sangue! Devorava morangos, cerejas, framboesas. Gostava de exibir os machucados, morder os lábios, os cantinhos dos dedos.

Era o sangue, o gosto de ferro, sentir a vida gota a gota. Preferia se depilar com lâmina, que com cera quente ou fria. Sentia um imenso prazer em menstruar, ver os pingos criando figuras no branco da louça.

Mas não era qualquer sangue – era o seu! Assim não fosse, teria sido médica, ou trabalharia em banco de sangue, mas nada disso jamais lhe passara pela cabeça.

Sonhava com banhos sensuais, onde lhe escorria sangue pelo corpo nu. Imaginava lágrimas rubras rolando pela face. Sentia o calor pulsando nas veias, em contraponto à frieza das sensações que lhe afloravam rutilantes.

Até que não suportou e fez jorrar toda a repressão pelos poros. Suou em variadas nuanças, desde granada profunda até desbotada anemia.
Exangue, dormiu. Com mil demônios!


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5 comentários

Anônimo

Diferente, mas interessante! Um poema pra lá de vampiresco!!! Gostei. se quisaer conhecer meu blog, é só acessar: www.qbonecadoll.blogspot.com Tchau!

Lílian Maial

Olá, Daniella!
Não é um poema, mas um miniconto surreal.
Fico feliz que tenha se interessado pela leitura.
Vou visitá-la, certamente.
Beijos,
Lílian Maial

SÔNIA PILLON

Instigante,sensual,perigoso, beirando à loucura... mas acima de tudo, fascinante, que prede o leitor até o fim!...
Parabéns!

Lílian Maial

Obrigada, Sônia!
Tem pouco tempo que venho escrevendo minicontos. Bom que consegui transmitir o tom... hehehehe
Beijo

Luiz Delfino de Bittencourt Miranda

És tão linda num soneto,
qualquer texto; na canção,
se eu morrer num arremeto,
ficas com o meu coração

Beijos Doutora,

Saudade

Luiz Delfino