A maçã do amor
Sônia Pillon
A tarde ensolarada e amena de outono atraiu toda a cidadezinha do interior para o parque municipal. Cercado de um imenso e paradisíaco lago, não faltavam peixes, patos e aves aquáticas. E como se não bastasse, era o Dia dos Namorados. Os casais passeavam e procuravam aproveitar o bom tempo para caminhar, fotografar e se refugiar embaixo das árvores, em busca de um pouco de intimidade. De tão belo, até lembrava um quadro de Monet...
Gerações inteiras se espalharam pelo parque. O corredor de final de semana e a praticante de trekking se movimentavam concentrados, alheios à poesia do momento. Destoavam, por que não foram seduzidos pela informalidade e descontração do ambiente. Com expressões sérias, mesmo usando abrigo e tênis, mantinham a postura formal do escritório, ou seria do consultório?...
As crianças faziam a festa correndo pela grama, para desespero dos pais, que temiam a proximidade da lagoa. Cães com pedigree, segurados por seus donos, e simpáticos vira-latas também aproveitavam a tarde domingueira, sem distinção...
Enquanto alguns idosos andavam encurvados, como se sucumbissem ao peso dos anos, outros andavam lépidos e faceiros, transbordando bom humor. Mas se a atmosfera era de alegria geral, nem por isso era unânime. Bastava um observar mais atento para flagrar olhares opacos, desesperançados, tomados pela raiva ou apatia, e rostos crispados pela dureza da vida.
As flores bem cuidadas encantavam pelo colorido, especialmente os canteiros de amor-perfeito, enquanto borboletas e pássaros sobrevoavam o local. O som que vinha da tenda junina anunciava o arraial que teria início no fim de tarde, com muito quentão, pinhão, pipoca, paqueras tímidas, azaração explícita... O vendedor de pipoca e algodão-doce ia empurrando o seu carrinho e soprando a corneta.
Enquanto observava o cenário quase perfeito, à la Barbie Girl, Samantha se aproximou da barraca da maçã do amor. Olhou uma a uma, e logo identificou a mais vermelha e vistosa. Era tão vermelha e brilhante, que não tinha como passar despercebida!
- Quero aquela maçã!, apontou Samantha. Ao segurar a maçã, se sentiu vitoriosa, pois viu muitos olhares cobiçosos enquanto pegava a fruta caramelada. Saiu rapidamente dali e foi procurar um canto para saborear a sua tão almejada maçã do amor. Na primeira dentada, a cobertura de açúcar foi deliciosa, e ela sorveu cada pedacinho.
Porém, à medida que passou a comer, viu que a fruta estava macia demais, com um gosto esquisito e, para sua decepção, estava estragada por dentro. Enojada, cuspiu rapidamente e jogou a maçã na lixeira. Uma senhora gorda e de estatura baixa, com ares de cigana, ao ver a cena não se conteve. Se aproximou discretamente de Samantha. – A maçã do amor é que nem certas pessoas. Nem sempre a beleza externa corresponde ao que se encontra por dentro.
Assustada, se vira rapidamente em direção à voz, mas não encontra mais ninguém... - A noite está só começando, e não vai ser uma maçã podre que vai estragar a festa, pensou Samantha, enquanto arrumava o cabelo e ajeitava a roupa.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
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A maçã do amor
autor(a): SÔNIA PILLON
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1 Comentário
De maçã e de amor todo mundo entende um pouco...
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