quinta-feira, 2 de junho de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo XI

Um mês depois, em um Sábado que amanheceu com um sol lindo, toda a peonada de meu pai estava reunida nos currais onde uma imensa massa branca de pequenos bovinos estava esperando a castração. Duas vezes por ano, os novilhos de um a dois anos ainda inteiros, eram reunidos para o ritual de deixar de ser macho para ser apenas um boi de corte. Era a festa da castrada, muito esperada pela peonada, não só por ser de grande luta e demonstração de força, mas pela comilança. Essa comilança tinha tradição, vinha dos mais remotos tempos, onde na imensidão dos pampas os antigos gaúchos faziam seus rituais de castração nas fazendas de então.

Aracê e eu estávamos olhando a faina da peonada, sentadas em uma das cercas que separava os bezerros do pasto, apertados dentro do curral.  Olhamos ao mesmo tempo para uma figura que chegava, montado em um cavalo preto, todo vestido de preto. Suas botas reluzindo de tão limpas, chapéu curvo na testa, olhar de gente ruim. O tal parecia uma assombração.

- Credo parece uma assombração! - disse Aracê de boca aberta.

Sorri pela interpretação verbal de meus pensamentos por minha amiga. Coisa engraçada. O homem mostrava na fisionomia um ar malvado e cheio de ódio. Seria ódio? Oras! O homem só estava vestido de preto. Isso não queria dizer nada.

Embora estivéssemos muito interessadas no trabalho do curral, onde bezerros entravam e saíam dos troncos destituídos de seus bens íntimos com uma rapidez impressionante, de vez em quando olhávamos para o cavaleiro sentado na sela meio de lado, com o olhar fixo na boiada.

- Parece que está vigiando! Acho que não gostei desse sujeito! - disse Aracê.

- Nem eu! Ele olha para o trabalho como se estivesse maquinando alguma coisa ruim. Cruz credo!

Os homens continuavam trabalhando, sem perceber a presença do sujeito de preto, que não perdia um movimento sequer do pessoal de meu pai. Coisa estranha!

O tempo passou rápido, e a castrada chegou ao fim. Os bezerros já estavam no pasto, todos devidamente esterilizados, saltando como se sentissem mais leves.

Logo foi servida a comida. Junto chegava o vinho, a cerveja e uma sanfona.

Ah! A sanfona! Quando o sanfoneiro abria o fole e soltava na tardinha o som tão gaúcho, a peonada ficava acesa e começava a dançar e cantar. Essa festa ia madrugada adentro no melhor estilo do pampa.

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