Passaram-se dois anos.
Vovó estava particularmente alegre naquele dia.
- Viu passarinho verde, vovó?
- Nada querida! Só estou feliz! O dia está lindo, o sol está uma beleza. Venham dar uma ajudazinha aqui.
- Sim vovó!
- Vocês sabem que depois que dona Maria e Seu Pedro se foram, ficamos todos desfalcados na casa. Não temos cozinheira, e Seu Pedro faz muita falta no jardim e no curral. Assim, estou tentando ajudar, mas com minha idade, só posso fazer coisas miúdas e sem esforço. Mas vocês duas são moças feitas, afinal já estão com dezessete anos, e por isso devem ajudar nas lidas da casa.
- Sabemos disso vovó. Estamos prontas para ajudar.
- Então estamos combinadas. A partir de hoje as duas estarão responsáveis pela arrumação da mesa nas refeições do dia. Tratem de começar. – e apontava para a grande sala de jantar.
Fomos então, Aracê e eu, incorporadas aos trabalhos rotineiros de uma grande casa cheia de gente.
Enquanto arrumávamos a mesa naquela manhã, o dia estava tão lindo e claro que nunca esperaria algo ruim acontecer. Mas nossas vontades nem sempre são satisfeitas.
Vovó que se sentara para fiscalizar nosso trabalho levantou pálida, dizendo estar com uma dor no braço esquerdo. Chamamos minha mãe que ficou logo preocupada, e pediu a meu pai que a levasse a um médico. Meu pai estava com bastante trabalho no pasto com o gado, e disse que a levaria logo após o almoço. Vovó disse não ser necessário, afinal era só uma dor no braço. Mas, mesmo assim, foi preparar-se para ir ao hospital com meu pai e minha mãe. Às dez horas vovó sentiu as dores aumentarem, agora se espalhava pelo peito. Mas mesmo assim, ficou para depois do almoço a ida ao médico. O almoço foi servido. Vovó não quis comer.
- Dói muito! - dizia ela.
E para vovó se queixar de alguma dor, precisava ser muito forte mesmo.
Terminada a refeição eles saíram para o hospital. O médico já havia sido avisado, eram necessários trinta minutos de nossa casa até o hospital mais próximo. Quando chegaram, meu pai precisou carregar vovó nos braços até o consultório. O médico olhou e disse ser o coração. Minha mãe e meu pai já começaram a chorar na sala ao lado.
Vovó foi examinada, mas quando o médico foi chamar meu pai para conversar sobre o estado dela, ela chamou minha mãe. Tomou a sua mão e disse: "Estou indo minha filha". E morreu.
Que desespero! Não havia mais nada a fazer. Vovó era muito velhinha. Quando papai ligou dizendo do ocorrido, Aracê e eu ficamos abraçadas chorando sem saber o que fazer, afinal, vovó fazia parte de nós duas com suas estórias, seus conselhos e sua amizade sempre presente.
Mais um! Vovó também foi! Mais um alguém importante de minha vida que ia embora para sempre, e estaria lá em cima me esperando.
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