Nesse mesmo ano entrei para a faculdade de direito sem saber muito bem se era isso que queria para meu futuro. Mas, precisava fazer algum curso. Optei por esse.
Em uma tarde chuvosa, entrei na cantina da faculdade onde todos se reuniam nos intervalos para uma conversa ou um refrigerante.
Em uma banqueta em frente ao balcão estava sentado Marcelo, o rapaz do segundo ano de administração de empresas, que costumava passar horas tocando seu violão e cantando na cantina, enquanto os colegas faziam lanche e alguns cantavam com ele. Nunca havia me aproximado desse grupo antes. Mas naquele dia não havia nenhuma banqueta disponível além de uma ao lado do cantor improvisado. Sentei-me sem ninguém notar minha presença, pois todos estavam cantando uma música da moda. A desafinação doía nos tímpanos quando todos gritavam a letra e nem o som do violão do esforçado tocador se ouvia. Por sinais pedi ao garçom um suco de laranja sem gelo e sem açúcar, e enquanto esperava prestei atenção em Marcelo.
Suas mãos de longos dedos deslizavam nas cordas do instrumento, e de sua boca de lábios finos a música saía com suavidade e sem esforço, sendo o único afinado da turma de cantores improvisados. Permaneci olhando o rapaz de perfil. Sua pele clara contrastava com os cabelos negros levemente ondulados. Nas têmporas alguns fios de cabelos brancos mostravam que não era assim tão jovem como parecia. Ou talvez sua genética o deixasse grisalho mais cedo. Quem sabe?
A música parou e Marcelo olhou para o lado onde eu estava contemplativa bebendo meu suco de laranja.
- Olá! Gostou da música? – perguntou.
- Sim, a letra é bonita, mas muito desafinados os participantes de seu coral.
- É mesmo. – respondeu ele rindo – já acabou sua aula hoje?
- À tarde não tenho aulas. Vim à biblioteca fazer umas pesquisas. – respondi sorrindo.
Ficamos conversando por um bom tempo e saímos juntos da faculdade. Ele possuía uma maneira gentil no falar, voz acalentadora e envolvente. Gostei de seu jeito, e ele provavelmente também gostou do meu, porque me convidou para jantar. Assim poderíamos nos conhecer melhor, disse ele. Aceitei.
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