quinta-feira, 7 de julho de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo XXIII

Quando minha filha fez doze anos resolvi levá-la para conhecer o local de nascimento de nossos ancestrais. Eles foram imigrantes vindos da Itália tanto do lado de minha mãe como de meu pai. Com muita euforia nos preparamos, já que era a primeira vez que íamos para o exterior só nós duas. Arruma mala daqui, faz compras dali, tira coisas que já estavam nas malas, coloca outras no lugar daquelas, revisa documentação. Ufa! Trabalheira danada. Mas enfim estávamos prontas para partir. Destino inicial: Milão! Terra onde nasceram nossos parentes paternos. Após uma longa e tediosa viagem chegamos ao destino, cansadas, mas muito felizes.
- Olha mamãe! Que praça linda!
- É mesmo!
Era a Piazza del Duomo, sem nenhuma dúvida a mais bela Praça da Itália. Ali estava Milão, chique, eterna, rica e famosa.
Após devidamente instaladas em um bom hotel, fomos tentar encontrar os parentes. Começamos pela lista telefônica e encontramos uma interminável lista de sobrenomes idênticos ao nosso. Começamos a anotar números e endereços. Alguém daquela imensa lista só poderia pertencer a família. Afinal não era a toa que os nomes eram tão iguais! Imbuídas da melhor boa fé saímos pelas ruas à procura dos endereços anotados.
Com a ajuda do pessoal do Hotel contratamos um taxi para o dia todo. Aproveitaríamos para passear enquanto fazíamos a ronda dos supostos aparentados.
O primeiro endereço era uma "Lancheria". Descemos do táxi e, brasileiras eufóricas e crédulas, tentamos conversar com a balconista que nos atendeu. Quando ela percebeu o que estávamos querendo, nos tratou muito mal, com grosseria mesmo e quase nos chutou para fora.
- Nossa mamãe! Que mulher grosseira!
Entramos no táxi e já sem tanto entusiasmo fomos para o segundo endereço. Era uma casa residencial em uma rua quase central atrás da "Basílica di Sant Ambrogio" a sudoeste da "Piazza del Duomo". Olhamos para a imponência da casa e desistimos sem nem tentar. Imagine que se na lanchonete onde é comércio, e deveriam nos tratar bem porque afinal poderíamos ser clientes, fomos escorraçadas quase a pontapés, como seria ali então? Deixa pra lá!
Vamos ao terceiro endereço. Após voltas e mais voltas o taxi parou em frente a um prédio de apartamentos, baixo, só três andares. A pintura externa escura e mofada pela umidade dava um aspecto de tristeza. Descemos do táxi e nos dirigimos as duas de mãos dadas, como para nos protegermos de alguma coisa ruim. Tocamos a campainha no número que tínhamos em nossa lista improvisada. Atendeu ao interfone uma voz feminina impaciente, perguntando com maus modos quem era. Olhamo-nos as duas e decidimos nem tentar. Seriam os Italianos avessos a conversas com parentes? Ou seria só em Milão assim? Mas a mulher do interfone nem sabia que procurávamos parentes. Portanto a grosseria deveria ser da natureza mesmo. Muito decepcionadas voltamos ao hotel.
- Afinal acho que não tivemos tanta sorte assim! – falou minha filha, e rimos as duas de nossos fracassos.

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