O fluxo segue
Numa conversa de beira de calçada foi proposto: deveria haver uma lei para os casais-almas-gêmeas de que, quando enfim unidos, nunca mais se separassem e que “esvaecessem” juntos também. Que difícil é um encontro enfim assim: duas pessoas amando na mesma alta dose. Mas no mais do dia a dia é isso, passos esperançosos com o intuito de que um dia essa alta dose inunde, a mim e a amada distante, e a ti e a sua pessoa amada. E o que fazer? Será sempre assim? – amor como a flor em seus ligeiros ciclos, pétalas e espinhos?
Como perdurar a flor? Tem jeito? Ou será isto: reféns do efêmero? Ou será que só as lembranças perduram? Talvez seja isto: a continuação se prolonga pelas lembranças, pela saudade, mas a vida segue.
É... a vida segue, é o fluxo, não é? O fluxo segue: aura que passa, pessoas que passam, gestos que passam, reticências que continuam... Ao primeiro pensamento, injustiças; “mas o coração continua”, dizia Drummond. E ainda pegando a sua deixa: “mas, e o humour?// A injustiça não se resolve./ À sombra do mundo errado/ murmuraste um protesto tímido./ Mas virão outros.// Tudo somado, devias/ precipitar-te, de vez, nas águas./ Estás nu na areia, no vento.../ Dorme, meu filho".
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Pablo Flora é poeta, mas quando as palavras não se aquietam no poema, inventa prosa.
domingo, 14 de agosto de 2011
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Cotidiano Ornamental - O fluxo segue
autor(a): Pablo Flora
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