quarta-feira, 24 de agosto de 2011

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Estranho processo




“Estranho processo esse, passar roupa”, pensou a moça inquieta enquanto pegava mais uma blusa. Essas ondas encrespadas sobre o tecido evaporando-se no vaivém do ferro de passar. Para quê? Se daqui a pouco estarão mais uma vez amarrotadas no movimento corriqueiro dos corpos. "Estranho processo, estranho processo”, insistia na ideia. Às vezes, Glória era pega por esses surtos de estranhamento cotidiano. Ela se mantinha como diarista, dava sorte e servia na casa de bacanas. Certa vez, estranhou até com o ato de comer. “Estranho processo”, insistia. Comer era estranho, sabe? Manter aquele ciclo todo dia, todo dia, não acaba? Acabará. Mas enquanto isso, insistia. O amor, por exemplo, era estranhamento total. Obedecia a um ciclo também? Como as flores? Como os ventos? ... a água? Não entendia, mas seguia adiante. Um dia, em um surto maior, questionou o sol, as constelações... Não ia muito longe e esbarrava com a visão na maré, no vaivém das ondas, na tarde de sol, nos namorados tranquilos pelo calçadão; na vida seguindo... Não entendia, e seguia também – como um fluxo primitivo. Puro estranhamento, mas dava o melhor de si.

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