quinta-feira, 18 de agosto de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo XXXVI

Minha filha e eu morávamos em uma cidade a trinta quilômetros daquela onde conheci o Dr. José. Morávamos só as duas desde que me divorciei. Éramos muito amigas, confidentes, não tínhamos segredos uma para com a outra.
Na manhã seguinte, fui acordada pela campainha da porta. Quem seria a essa hora? A moça da limpeza tem a chave, ou será que perdeu? Bem...
- Bom dia doutora.
Era o moço da floricultura próxima do prédio que morávamos. Nos braços tinha um imenso buquê de rosas vermelhas.
- O cartão está aí no meio - disse sorrindo um sorriso malicioso e desceu rapidamente as escadas.
Bom! Nada mal! Ser acordada às sete da manhã com um jardim inteiro à nossa porta é bem promissor. Fui para o escritório com o sorriso mais abestalhado da vida. 

O cartão dizia:

"Doce manhã tenha a minha princesa! Seu olhar deve alegrar-se com a visão do desabrochar das rosas, e as pétalas macias devem acariciar sua face já que não posso fazê-lo! Com carinho, José."

Ainda nem havia sequer colocado minha sala de trabalho em ordem quando a secretária anunciou:
- Doutora, está aí um senhor que diz não ter hora marcada. Seu nome é José Cândido.

Era só Segunda feira de manhã!
Antes um buquê de rosas que mais parecia um jardim, agora ele em pessoa algumas horas depois. Ontem foi Domingo, estivemos na festa de aniversário da sua cidade, por que a pressa?
- Bom dia doutora! - disse ele entrando precedido da secretária.
- Bom dia doutor!
Levantei-me para cumprimentá-lo e tomar sua mão estendida, enquanto a secretária sumia silenciosamente como fazia sempre que entrava um cliente. Ele já estava mais a vontade. Eu, em meu escritório, mesmo que a situação fosse delicada como agora, nunca perdi a calma nem a postura. 
- Sente-se, por favor. Estou a sua disposição. - disse sentando-me.
- Obrigado! - disse ele e puxou a cadeira mais para perto da mesa – você está linda!
O ambiente de meu escritório era bem mais agradável para uma conversa que o salão apinhado de gente da festa do dia anterior. A sala onde eu trabalhava era muito bonita, havia enormes janelões que ocupavam todos os onze metros da parede, com cortinas claras e transparentes, dando privacidade sem tirar a luminosidade do ambiente. A decoração alegre com vasos de flores nos cantos, as cadeiras confortáveis, quadros e móveis discretos. Uma parte da janela ficava aberta, mostrando a beleza da praça em frente ao prédio.
Enquanto eu passava os olhos pela cena acima, ele falou:
- Precisei vir resolver uns negócios de meu pai, então aproveitei para sair cedo e vir dizer da felicidade que tive de conhecê-la. Fazia muito tempo que meu coração não disparava quando tocava a mão de uma mulher. Fiquei paralisado ontem ao sermos apresentados. Isso de paralisar o cérebro nunca me aconteceu. Fiquei impressionado mesmo!
- Bem, para ser sincera, também fiquei impressionada com o ocorrido.
- Espero não estar sendo inoportuno?
- Não, claro.
- Que bom! Isso é bom sinal. Gostaria de ficar aqui conversando e olhando para você até o fim de meus dias, mas agora preciso ir. Vou ficar mais a vontade para me aproximar de você, e também para lhe mandar flores.

Falava com um sorriso de parar minha respiração.
Posso? - disse isto tomando minha mão e olhando-me bem nos olhos, com muita doçura e carinho em seu sorriso.
- Está bem doutor. De agora em diante também vou ficar mais a vontade quando nos encontrarmos, e quando receber suas flores - disse retribuindo o sorriso.
Enquanto a secretária o acompanhava até a saída, fiquei olhando aquele homem bonito, elegantemente vestido sair de meu escritório.  Fazia anos que não sentia algo tão bom em minha vida. Tão doce! Como era bom alguém tão atraente estar interessado em minha pessoa.
Sorria por dentro e por fora ao pensar nisso.
Desse dia em diante, foram tantos buquês de flores, cartões, caixas de bombons, presentes, jantares, saraus, festas, bailes, chás na casa das tias dele, tomar leite fresco na fazenda de seu pai, e por aí a fora, que parecia um sonho. Tudo isso sempre acompanhado do lindo sorriso e da delicadeza sem par do moço.
Passaram-se seis meses, tão rápido que nem os vi passar. O mundo gira mais depressa quando somos felizes.

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