sexta-feira, 30 de setembro de 2011

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Doce Guerreira - Sonia Regina

Amor. Essa é a palavra com a qual Núbia designa a mãe, de oitenta anos. De natureza simples e suave, é, não obstante, pessoa complexa. Carismática e adorável, não carece ser decifrada: é oferenda que faz de si mesma, ao mundo.

Sempre presente, jamais deixou de ser um esteio. Sem se furtar a um gesto ou palavra, a mãe de Núbia se expressa forte e ternamente: ora crepúsculo, ora alvorada, num movimento que é água. Não tem medo do fustigar do vento, mas se recolhe ante uma brisa que vacile emprestar-lhe o sopro.

Nunca seus voos são aleatórios. Têm direção e rumo certo. E se lhe custa desviá-los, ainda assim pode fazê-lo.

Não só contempla, busca também a ação. Ousa, e não gosta de necessitar. Envolve-se afetivamente e acredita que o afeto vale a pena. Crê que é o amor o que arde e mantém acesa a vida. Assim ensinou a Núbia e ao irmão. Mas advertiu-os, acerca desta: a vida não é uma prenda, há que merecê-la para usufruí-la.

Construtivista por natureza, essa doce senhora mostrou-lhes a alegria que se alcança com a convivência e o conhecimento, a paz que se instaura quando se “é” com todas as potencialidades do Ser, a autonomia que se conquista ao aprender a fazer. Despertou neles um olhar diferente, mais holístico, provocativo e reflexivo, permitindo-lhes percorrerem o caminho de desenvolvimento e crescimento que aponta para a construção de seres humanos mais completos, com uma formação mais abrangente e mais responsável com seu planeta.

De essência poética, convocava-os – e ainda o faz - a ver a cor azul-hortênsia do céu de inverno e o espelho nas águas plácidas; a sentir o aroma da terra molhada e da grama recém-cortada. No inverno enevoado da Gávea, chamava-os à janela dizendo:

- Vejam, parece que estamos na serra!

Compartilhava com eles seus prazeres e observações de um mundo que via com a alma, propiciando-lhes valorizar o material e o que vai além. Acolhia-os com doçura e como leoa feroz os protegia. Guerreira tenaz, não desistia ante um obstáculo.

Propiciou um ambiente familiar harmonioso, de construção e troca, arrebatamentos e doações, fé e esperança, deixando para trás o medo dos fantasmas que aprisionam.


Sonia Regina
04092011

2 comentários

Penélope

Quantomais fantasmas maiores nossa determinação de luta.
Um texto bastante reflexivo, Sonia.
O quinto parágrafo traz toda a essência daqueles que vivem com afeto e determinação, pautados no AMOR e na FÉ.
Adorável!!!
Sabe que as guerreiras têm andado em falta por este MUNDO.
Abraços

sonia regina

Obrigada, Malu. Todo o texto e esse quinto parágrafo em especial foram inspirados em uma pessoa real: assim é a minha mãe, a guerreira mais doce que conheço. Esta é uma homenagem para ela.

Estou aguardando os seus textos...

Beijo
meu