quinta-feira, 15 de setembro de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo XLIV

Após essa conversa, prestei mais atenção em minha mãe. Notei que cada vez que a visitava, dia a dia ela definhava. Não havia mais sorriso em seu rosto nem em seus olhos. Sempre triste. Como meu irmão após gastar tudo que tinha foi morar no litoral de outro estado, não podia saber de todos os acontecimentos, já que era bem longe onde eu morava.
Um dia, um mês após ter visitado minha mãe e meu irmão, minha sobrinha e afilhada me ligou e pediu para que fosse até sua casa urgente. Perguntei se minha mãe estava bem, porque me preocupava o estado dela. Ela disse que era sobre ela que precisávamos conversar. Mesmo não tendo muita disponibilidade de tempo para passeios, deixei tudo e fui ver o que minha sobrinha tinha para falar.
Quando cheguei à casa de meu irmão, não vi minha mãe na sala nem em lugar nenhum. Deixei minha mala no quarto de hóspedes como era meu costume, e fui ter com minha cunhada que não saiu para me receber. Ela estava em seu quarto arrumando-se para sair. Cumprimentei e perguntei em seguida:
    - Onde está mamãe?
    - Saiu. Agora ela vive na Igreja!
Falou isso com maus modos, como se isso de estar na Igreja fosse algo ruim. Levantou-se para sair e disse:
    - Ela logo volta! Espere aí.
Bem! Pensei um tanto irritada pela maneira como fui tratada ao chegar, essa mulher nunca foi muito com minha cara mesmo, deixa para lá seu mau humor. E enquanto esperava minha mãe chegar da Igreja liguei para minha sobrinha avisando que já estava na casa de seu pai. Ela pediu-me para ir até a casa dela, pois o que precisava me contar era de extremo segredo.
Saí pensando o que seria tão segredo assim.
Na casa dela, ela foi me puxando para o seu quarto toda precavida:
- Sabe madrinha! Descobri algo muito desagradável que até tenho vergonha de contar. Mas você precisa saber.
- Deve ser muito triste para você estar me contando assim com tantos rodeios.
- Descobri que minha mãe maltrata a vovó. Não deixa comprar nada. Só lhe dá os restos da comida da casa, faz ela dormir no quartinho de empregada sem nem um armário para guardar suas roupas. Quando você voltar para lá, provavelmente ela terá colocado a vovó em outro quarto só até você sair. Após isso vai voltar para os fundos como tem vivido até agora.
- Como assim? Mamãe tratada como um cachorro?
- Nada madrinha! O cachorro é mais bem tratado que a vovó!
- E Guilherme? Não vê isso? – perguntei já com meu sangue fervendo.
- Papai depois que ficou doente, não liga para mais nada da vida. Nem percebe se o mundo está girando. É tão egoísta quanto pode ficar uma pessoa doente e sem pulso como ele sempre foi. Você sabe que foi mamãe quem sempre mandou e desmandou lá em casa. Por não concordar com essas coisas é que saí para morar sozinha. Eles não me perdoam, e por isso estou proibida de voltar lá, nem posso visitar vovó que eu amo tanto. Meus irmãos também estão morando longe. Só estão os três lá agora.
      - E como ficou sabendo disso?
- Encontrei vovó na Igreja, estava tão abatida e triste e cada vez que a via ela estava pior. Então a trouxe comigo para conversar. Após muito insistir ela desabafou um pouco, mas chorava tanto e suas lágrimas eram tão doloridas que não quis fazê-la sofrer mais. Levei-a para casa e entrei com ela. Entramos pela porta da cozinha e ela fez sinal de silêncio com os dedos nos lábios, e falou baixinho:
- Sua mãe me mata se souber que trouxe alguém aqui para dentro. Vamos para meu quarto.
Aí perguntei:
      - Mas seu quarto não é mais lá dentro?
- Não! Agora moro aqui no quarto de empregada.
E minha sobrinha chorava enquanto me contava.
- Quando ela me levou para seu quartinho fiquei desesperada. Você conhece lá. Não tem um armário para roupas, não tem conforto nenhum, tanto que nem as empregadas meu pai deixava alojar lá por ser muito desconfortável. Pois vovó está lá. Comendo dos restos que lhe dão, sem nenhum dinheiro para comprar uma balinha se lhe der vontade. E a cama então? Um catre, com um colchão duro, um cobertor velho e furado. Madrinha tenho tanta pena dela, mas ela não quer ajuda, não quer sair de lá. Não sei por que! Ajude-me trazê-la para morar comigo. Vou cuidar dela com tanto carinho!

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