domingo, 18 de setembro de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo XLV

Saí da casa de minha sobrinha com o coração apertado e o sangue fervendo.
Quando cheguei à casa de meu irmão, mamãe já estava lá. Entrei pela porta dos fundos e fui direto ao quartinho de empregada. Lá estava minha mãe, tão pequena e magra, olheiras profundas, o corpinho antes tão altaneiro e cheio de graça agora parecia uma alma penada.
- Mamãe! – falei e atirei-me a seus pés.
- Filha! Meu Deus! Você está aqui? Luciana sabe que você chegou?
- Sabe! Quando cheguei ela saiu.
- Deve ter ido jogar. Ela sai quase todas as tardes para jogar com as amigas.
- Sei. Ela sempre gostou disso! E o que a senhora está fazendo aqui atrás nesse quarto? E esses sapatos rotos e furados? Essa roupa tão velha, mais velha que eu?
Minha mãe começou a chorar e sua voz não saía. Rapidamente comecei a procurar suas roupas. Estava debaixo da cama em uma mala velha toda rasgada, era o guarda roupas de minha mãe. Fiquei indignada. Tomei minha mãe pela mão e a puxei delicadamente, com medo de derrubá-la, pois ela estava muito fraca.
    - Vamos! Vamos agora mesmo para a casa de sua neta. Não quero ouvir nem um pio. Ela está desesperada com sua situação, e a senhora a fará muito feliz indo morar com ela. E pode ter certeza que Luciana dará graças a Deus por a senhora sair daqui. Vamos logo!

Levei-a até a casa de minha afilhada. As duas se abraçaram e ficaram um tempão unidas pelo abraço. De meus olhos rolavam lágrimas de felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Mas agora minha mãe seria bem tratada. Nada de ter de comer restos.
Mais tarde minha mãe contou que até bater nela minha cunhada batia, principalmente quando perdia nas suas jogatinas, descontava nela suas frustrações de madame em decadência.

Após minha mãe estar bem instalada na casa de minha sobrinha, voltei para casa.

Um ano depois de mudar, e já bem velhinha, minha mãe sofreu um distúrbio cardíaco e faleceu. Atendendo seu pedido feito há muitos anos, levamos seu corpo para ser sepultado junto com meu pai.
Minha filha mais velha, agora já formada e casada, veio da Europa para o enterro.
Minhas duas filhas eram muito apegadas a minha mãe, e ficaram algum tempo tristes e taciturnas pela perda da avó. Eu então, nem se fala! Fiquei arrasada.

Mas a vida continuava. Afinal a coisa mais certa é a morte. Desde o instante que se nasce estamos indo de encontro a ela, por isso enquanto se vive, deve-se cuidar bem dos vivos. Porque depois que se foram, de nada mais adianta mausoléus de ouro.

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