sábado, 24 de setembro de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capitulo XLVII

Quando nos casamos ganhei de Luan a aliança de ouro, comprada com muito sacrifício porque ele ganhava pouco. Dei então a ele um bonito anel que pertencera a meu pai e lhe disse:
- Meu pai foi sempre um homem íntegro, trabalhador e apegado a família. Quero que use esse anel como símbolo dessas qualidades.
Ele nunca tirou o anel do dedo até uma noite, dezoito anos depois de casados, quando o colocou na cabeceira da cama e lá o deixou sem me dizer nada. Encontrei no dia seguinte. Meu coração chorou e meus olhos também ao guardar o anel em sua antiga caixa.
Foi aí que ele começou a me excluir de sua vida.
Alguns dias depois, me chamou em um canto e disse-me com todas as letras: “Vou sair de casa porque preciso de liberdade, cansei de ser preso, quero ser livre para pegar meu carro e sair para o mundo, sem destino, ter mulheres, não nasci para ser marido de ninguém. Afinal foram dezoito anos de convívio, acho que chega”.
Embora em meu subconsciente houvesse aquela antiga prevenção disso acontecer um dia, prevenção quase esquecida pelos anos de felicidade, o choque causado por suas palavras e o significado profundo delas, foi tão grande em meu peito que quase me faltou ar. Mas consegui fazer a pergunta clássica:
- Alguma mulher em sua vida?
- Não, nenhuma em especial, embora não descarte a idéia. Afinal vou sair de casa para isso. Preciso disso.
Desse dia em diante minha vida se tornou um martírio. Fui morrendo aos poucos com o desapego crescente que ele demonstrou após essa conversa.
Ficou em casa conosco ainda por alguns meses, preparando a filha e eu para o golpe final. Mas finalmente saiu. Foi para uma cidade distante. Distante o suficiente para nos isolar de sua vida.
Ficamos olhando uma para outra, ela chorando em um canto eu em outro, ambas perdidas, sem saber o rumo que daríamos a nossos passos. Ela nunca entendeu o motivo da atitude do pai, só eu entendia o que havia levado Luan a isso. Ele dizia que não havia outro motivo além de querer ser livre. Mas quando eu me olhava no espelho, via uma mulher velha, sem condições de ombrear com a grande quantidade de jovens lindas que circulavam a sua volta todo dia. E aquela antiga prevenção se concretizou.
Olha a força do pensamento!

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