quarta-feira, 12 de outubro de 2011

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A ÁGUIA DE OURO - JANDIRA ZANCHI

 
A DANÇA DOS ARCOS - A ÁGUIA DE OUR0

I  -  A  PASSAGEM

1.

na terra sem deus
o homem inventou o servo
e serviu o rei

     esse denominou a amante, o desejo e a esperança, e se escondeu. Deixou o núcleo debatendo-se entre os fiéis. Mortos e feridos denegriram-se e salvos ou brancos alternaram-se em protestos protestados.

                        Por esses dias escorri o cravo
                   e de sua braguilha escorreu o fel

     Devo dizer-lhes que porque inventaram os espremeções e as espadas eram nítidas as formas espiraladas Ninfas molengas e reluzentes esparramaram-se nos cantos da pousada. Para os poetas deixaram pouco mais do que a liberdade e a solicitude, estreitos espaços de horizontes e sonhos que, incansavelmente, deveriam preencher de rimas, acordes ou tintas, de tal forma enfeitada a festa que, nas frestas,  as manhãs cientes explodissem seus cantos subjacentes, vermelhos indóceis de paixão e maresia.
    Os reis continuaram  sentando-se em seus palácios notificados e só fariam as ameias para as suas amantes quando lhes foi digno colorir os montes.

Antes que me esqueça
esqueci o rei

     Dos vinte e sete que iniciaram a marcha, um pousou no galho da águia, outro tomou espada. O primeiro fixou-se em estrelas e da lua vermelha não mais se distraiu. O segundo fez-se homem do mundo e prometeu-se louro e erguido para o coro do grito. Dos outros seis, quatro ou cinco jogariam cartas em suas tardes vazias e só fariam triunfos e empreitadas a cada retomada de indicar o santo no anjo ou no deus.

                                        seriam, enfim, apenas reis
                                        homens sisudos e pesados
                                        atentos ao largo horizonte

lá aonde se divisa uma estranha falta de apreensão.

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