sábado, 22 de outubro de 2011

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O Engenheiro & o Poeta

Ousado. Genial. E um dia o engenheiro mundialmente reconhecido foi à TV anunciar sua mais nova obra:
— Um muro de palavras. O maior e mais alto muro de palavras já visto pelo Homem.
A obra gigantesca foi posta em execução: milhares de homens trabalhando, máquinas, e palavras, palavras, palavras.
Volta e meia um jornalista aparecia com a pergunta:
— Quando será concluída a obra?
O engenheiro respondia sempre, cretinamente:
— Esse muro só termina quando me faltarem as palavras.
Durante anos o muro cresceu em direção ao céu. Palavras, quilômetros delas. A impressionante obra já consumira milhares de vidas, homens. Fora até mesmo comparada às pirâmides do Egito, tamanha a sua grandeza.
— E essa porra, não acaba nunca? — começaram a perguntar.
Diante do silêncio do engenheiro, o mundo passou a acreditar que o muro estaria pronto em breve. As palavras, afinal, já lhe faltavam. Tudo era uma questão de tempo. Pouco tempo.
Mas as obras do muro, como se constatou, não foram concluídas em uma semana. Nem em um mês. Um ano depois e o muro ainda crescia vertiginosamente, sem previsões de término.
O caos se instalou: jornalistas e autoridades nacionais e estrangeiras falavam coisas sem nexo. Todo mundo tinha uma teoria sobre o muro mas ninguém era capaz de provar. A pirâmide havia se transformado em torre de Babel.
***
Vinte anos depois o muro foi enfim concluído. Não pelo engenheiro, já morto, mas sim por um poeta.
O mundo quis saber:
— Como é que o senhor, poeta, realizou tal proeza?
— O engenheiro que inventou este muro de palavras só entendia de números.
Todos permaneceram calados. O poeta continuou:
— O seu projeto era grandioso, sim, arrojado. Mas ele, o engenheiro, deteve sua atenção somente sobre as palavras, e ignorou que as palavras, assim como os números, também estão condicionadas a certas regras. O engenheiro foi brilhante, sim, mas esqueceu algo que jamais poderia esquecer quando se trabalha com palavras.
— E o que foi que ele esqueceu? — perguntaram.
— Uma coisa que os poetas podem até não utilizar, mas jamais ignoram: o ponto final.

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