quinta-feira, 6 de outubro de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo L

Estava sentada olhando a lua cheia, lambendo as feridas causadas pelas mágoas recentes quando o telefone tocou.
- Alô!
- Oi! Quem fala? – do outro lado da linha uma voz que há muito tempo não ouvia, e por isso não reconheci de imediato.
- Posso falar com Dra. Laura?
- Sou eu! – respondi querendo conhecer a voz.
Do outro lado um soluço e alguém tentando falar, mas sem poder devido ao choro.
- Alô! Quem fala? – repeti.
- Sou eu maninha! Aracê! – falava entre soluços.
- Meu Deus! Aracê! Onde você está? Porque está chorando?
Do outro lado os soluços continuavam.
- Acalme-se. Fale comigo.
- Laura! É a emoção! Estou chorando por emoção. Consegui seu telefone através de sua cunhada. Fazia muito tempo que queria falar com você. Queria ouvir sua voz. Estou com tanta saudade!
Sem querer meus olhos começaram a derramar lágrimas. Pensei que não as tivesse mais! Achei que todas já haviam sido derramadas depois de tantos dissabores na minha vida. Mas não. A natureza se encarrega de fabricar mais, e elas caem sem cerimônia, quer de alegria ou de tristeza. Agora era de alegria por ouvir a voz de minha companheira de infância, quase irmã, que há tantos anos não sabia notícias. Na verdade desde a morte de meu pai. Ficamos as duas chorando ela de lá e eu de cá, com o fone no ouvido sem podermos falar.
- Olha! - disse ela entre soluços – Quero que venha me visitar. Ainda estou morando no Rio de Janeiro. Roberto vai para o exterior a negócios e vou ficar só. Poderíamos nos divertir juntas como antigamente.
- Gostaria muito! Mas agora não posso querida. Mas me diga como vão as coisas? A sua vida?
- Ah! Faz tanto tempo que não conversamos. Minha vida está ótima. Roberto e eu somos felizes. Sempre fomos muito felizes. Como você sabe só temos um filho, médico. Não quis seguir os negócios do pai, mas ele é feliz assim. Não casou ainda porque quer ficar estabilizado antes de constituir família. Na verdade ele é acomodado, gosta mesmo é de ficar ao lado do pai e da mãe.
- Que bom! Desses pequenos carinhos é que nossa vida se alimenta, não é mesmo?
- E você Laura? Como está sua vida? Suas filhas? Seu marido?
- Tudo bem! Vamos levando a vida como Deus determina que seja. Minha filha mais velha ainda está na Europa, feliz com o marido e seu trabalho. A mais nova está na faculdade, linda e inteligente. (Parei um pouco de falar e respirei fundo) Vou pensar em ir visitá-la uma hora dessas. Aí contarei todos os tropeços e embates de minha vida. Certo?
- Certo minha irmã querida! Vou esperá-la.
- Assim que me organizar eu ligo para marcar uma data e irei até aí.
- Vou ficar muito feliz!
Quando desliguei o telefone pensei - porque não tive coragem de contar a ela a minha verdadeira e triste situação? Vergonha? Quem sabe!

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