sexta-feira, 28 de outubro de 2011

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Os Caminhos de Laura - Capítulo LVII

Corri o dia todo! Tira sangue, faz xixi, faz esteira, mede batimentos cardíacos, faz radiologia, e uma montanha de outras coisas mais. Cheguei a casa já passava das três horas da tarde. Quando abri a porta vi em cima da mesa um imenso ramalhete de flores do campo muito coloridas. Não dei importância porque o namorado de minha filha estava sempre mandando flores a ela. Achei apenas que ele dessa vez resolvera mudar o tom, porque eram sempre rosas que ele enviava, invariavelmente, porque minha pequena gostava delas.
Entrei para um banho merecido depois de tanto corre-corre, e depois deitei para um bom descanso e dormi.
Ao chegar da academia minha filha acordou-me rindo.
- Hei! Dorminhoca! Nem pra ver suas flores você acorda?
- Flores? Que flores?
- O imenso buque que está em cima da mesa é pra você!
- Para mim? Mas nem é meu aniversário, nem nada especial. Que dia é hoje afinal?
- Sei lá! Só sei que o cartão está endereçado a Senhorita Laura!
Levantei curiosa para ver de quem seriam as flores. 
- Quando entrei em casa naquela hora achei que fossem para você!
- Também achei, mas não são pra mim.
Ela acompanhou-me também curiosa em saber de quem sua mãe estava recebendo flores. No envelope do cartão estava:
"Para Senhorita Laura"
Abri e dizia apenas:
"Espero que tenha tido bons resultados nos exames".
Entendi a mensagem imediatamente. Só podia ser de Ricardo, porque ninguém mais soube de meus exames. Não havia comentado com ninguém, já que minha filha está sempre envolvida com sua vida e seus afazeres, e não tem tempo para entabular uma conversa mais longa que dois minutos comigo. E pela manhã havia dito a ele que iria ao médico fazer os preventivos normais. Só podia ser ele!
Com ajuda de minha filha colocamos as flores em um grande vaso, expusemos em cima da mesa da sala. Parecia um jardim. Mas era bonito de verdade! Virei o cartão nas mãos várias vezes. Não tinha endereço, só "Senhorita Laura", nada mais.
Fiquei muito curiosa. Liguei para a portaria e perguntei ao porteiro quem havia deixado as flores.

- Foi o Dr. Ricardo disse o porteiro - perguntou qual era seu apartamento e pediu para deixar aí. Entreguei para sua filha.
Minha filha curiosa perguntou:
- Quem foi mamãe?
- Um tal de Dr. Ricardo.
- Você o conhece?
- De passagem! Parece que é proprietário de uns apartamentos aqui no prédio.
- Uns? Ele mora aqui?
- Acho que não. Não sei!
- Mamãe!!!! Que história é essa? Ninguém manda flores assim para quem não conhece.
- Já disse que o conheço de passagem. Algumas conversas rápidas. O vi esses dias no shopping e fizemos um lanche juntos, absolutamente por acaso.
- Ai! Ai! Ai! Esse por acaso está me soando à armação!
Para evitar embaraços e explicações perguntei se ela estava com fome. Palavra mágica! Para desviar a atenção dela é só oferecer comida. Ela adora comer. Fomos para a cozinha e a conversa mudou para assuntos da academia dela. Ufa! Escapei por pouco! Porque na verdade não teria muito a contar, além do que já disse aqui. E minha intenção era nunca mais ver o tal Dr. Ricardo. E foi o que fiz. Não fui mais ver a linda paisagem na lanchonete do shopping. Não recebi as flores que enviou em outras ocasiões, pedi ao porteiro que devolvesse dizendo que eu não estava. Fechei-me dentro de casa sem sair para nada.
Morri por dentro, a vida me foi muito cruel sempre.
Não quero mais homens a meu redor. Com flores ou sem elas. Porque sempre que alguém está comigo, dou um jeito de afastar com as criações absurdas de meu pensamento, colocando negativismos nos melhores relacionamentos e afastando quem me ama por motivos que nem eu sei quais são.
Acabou. Chega. Nunca mais mesmo.

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