segunda-feira, 14 de novembro de 2011

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O Sonhador - Capítulo IV

No sótão havia um livro ensebado, torto de tanto manusear. Esse livro tinha um valor igual ao sol para Perônio. Nele estavam as lágrimas de sua mãe, derramadas, quem sabe, pelo prazer da leitura ou por algum sofrimento escondido. Todos os dias após a corrida pelos pastos, ele subia as escadas íngremes e se deitava no velho catre esquecido do resto do mundo. Lia e sonhava. Lendo sentia a mãe perto como quando era criança. Sonhando esperava vê-la mais uma vez.
 De tanto ler sabia a história de cor e salteado. Muitas vezes falava baixinho com os olhos fechados as palavras da próxima página, só pelo prazer de saber que a mãe havia passado seus doces olhos por ali. Era muito criança quando ficou sem ela. Mas lembrava nitidamente de seu semblante cantando para ele dormir. E nesses cantos havia algo daquela história literária escrita por alguém que ele nunca desejou saber quem era. Mas que embalou sua infância enquanto foi feliz.

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