sábado, 26 de novembro de 2011

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O Sonhador - Último Capítulo


Faustino amou muito a sua Marta. Não aceitou aquela morte nunca, e colou no filho o amor que seria dela. Por isso nunca forçou o menino a nada. Nem a estudar, achando que, se ele era feliz assim, que fosse! Seu amor o cobriria de qualquer deficiência cultural. E assim seguiu a vida pacata de criador de cavalos, e ficou a espera do tempo passar até o momento em que pensava reencontrar sua Marta no além.

Venâncio também vagava pelas matas e pastos esperando o momento de estar com a Patroa, como estivera no momento de sua morte, a cabeça pertinho de seu coração.

Os dias para Perônio passavam devagar agora, depois de ouvir o relato de Venâncio. Passou uma vida na ignorância dos fatos que o deixara triste desde a morte da mãe. O conhecimento do acontecido colocou a dúvida, e sua alma não sabia o que fazer. Culpar o pai da morte da mãe? Mas aquele homem viveu pela lembrança da esposa. Como culpá-lo por amar tanto?

E as horas dos dias de Perônio passaram agora, a ser uma longa espera, até encontrar também a mãe lá no além, como o pai e Venâncio faziam há tantos anos. Só que a espera dele era para uma resposta. E esperou então que essa vida traiçoeira, escoasse pelos campos em suas corridas com os avestruzes e puros sangues, e no velar das estrelas e da lua, até o encontro planejado, longe dos pirilampos, porém mais perto dos anjos. No entanto, a espera nunca lhe dava inteira paz de espírito. Forçava-o uma espécie de compromisso com a parte traiçoeira da vida, estremando os campos do agredido e do agressor. E gritou para si mesmo – alto lá, nenhum agressor e nenhum agredido. Apenas eu a escutar a aproximação do fato irreversível.

E pensou - ainda sou jovem, tenho muito que esperar. Esperar pela hora que alguma coisa acontecesse para me dar alívio verdadeiro, e que trouxesse ao coração algo mais que a vontade que tenho de morrer.

Com certeza, ainda era jovem, tinha muito que esperar.

E sonhar.

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