segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

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Dinheiro ganho debaixo de sol

Sônia Pillon

* Matéria publicada em 3 de janeiro de 2012, no www.ocorreiodopovo.com.br

Os raios solares são inclementes, penetram na pele e provocam grossos pingos de suor. Mas mesmo assim não conseguem intimidar os vendedores ambulantes de Barra Velha, que fazem da areia seu local de trabalho, de segunda a segunda. No lugar paradisíaco onde os veranistas relaxam e usufruem de suas férias, eles seguem trabalhando, vendendo produtos que aplacam a fome e a sede, e satisfazem a vaidade, com a venda de roupas e acessórios.

Os que dispõem de alvará para atuar estão devidamente identificados com a camisa amarela fornecida pela Diretoria Municipal de Fiscalização de Barra Velha, e são vistos empurrando carrinhos, ou segurando cabideiros nas costas. Apesar das árduas condições de trabalho, eles não reclamam e até ficam felizes em poder ganhar um dinheirinho a mais durante o veraneio. O bom humor é o melhor companheiro durante a jornada de trabalho, que pode se estender até o final da tarde.

O vendedor de bebidas João Moita, 71, tem muitas histórias para contar. Também conhecido como “João da Cerveja”, conta que já foi marinheiro e há vinte anos aportou definitivamente em Barra Velha. “Conheço 60 países”, afirma, orgulhoso. Nascido em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, afirma que viveu por 40 anos no Rio de Janeiro. “Me aposentei e vim para cá. É um bom lugar para vir depois que a gente ‘morre’”, dispara João da Cerveja, sorridente, com um certo humor às avessas. Aliás, senso de humor é o que mais define esse homem, bastante conhecido pelos veranistas habituais. “O trabalho aqui está bom, a ‘estrada’ é que está ruim”, observa ele, em referência às areias revolvidas da Praia Central, por causa da ressaca provocada pelas intensas chuvas, nos últimos dias.

No seu carrinho ele dispõe de água mineral, cerveja em lata e sucos, a R$ 3 e R$ 2,50. A atividade nas areias ele passou a fazer há 10 anos, para complementar os rendimentos. “O movimento aqui vai até fevereiro, até recomeçarem as aulas”, afirma ele, enquanto se desdobra para atender a fiel clientela.

O vendedor de sorvetes Adenilson Ribeiro, 23, revela que é de Curitiba, atua como pedreiro ao longo do ano, mas há quatro anos passou a trabalhar no verão de Barra Velha. Nesta temporada ele começou dia 17 de dezembro de 2011 e pretende ficar até 4 de maço. Ele faz mistério em relação a valores, mas afirma que o que ganha em três meses supera em muito o salário que recebe como operário da construção civil. Cada sorvete vendido custa em média R$ 4 e ele perde a conta de quantas unidades vende por dia. “Vale a pena!”, assegura, misterioso. Seriam centenas?

O agricultor Eurico Souza Câmara, 50 anos, se transforma em um vendedor de cangas, vestidos e batas de praia durante a estação mais quente do ano. Ele conta que é de Araçuaí, Minas Gerais. Na lavoura, planta milho e feijão para garantir o seu sustento. Adenilson comercializa peças de R$ 20 a R$ 40. Na alta temporada, com o cabideiro nos ombros, conta que chega a faturar de R$ 2 mil a R$ 3 mil no período, dependendo da época. Segundo ele, a cidade o cativou. “Muita gente já conheço. Gosto daqui. As pessoas são bem educadas”, observa. “Venho há quatro anos para cá. Dá para ganhar um dinheirinho com as roupas do Nordeste”, complementa.

* Barra Velha é um município que integra o Vale do Itapocu,norte de Santa Catarina.

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