domingo, 26 de fevereiro de 2012

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Pot-pourri 1 e 2 - Sonia Regina





















[1]    

é no íntimo das veias que agoniza 
a angústia surda (1) 
o gosto de sal 
na água ardente acorda o milagre 
que nos chega no momento certo (2) 
 

estrelas não adormecem, velam as cores e imagens
que crias. aguarda-as, enquanto sentes o aroma
deste dia em que caminhas com o coração.
 

há habitações fluindo dos teus olhos, percebes?
 

estares perto de ti coloca teus passos na direção certa.
há cidades límpidas além dessa montanha, há outras
luzes, teus tornozelos não te falharão (3)
 

a linguagem flui nas representações. cobiça que se fixem,
na terra e na água, o fervor e o júbilo, a ternura, um tempo
e distância não lineares (4)
 

o passado ao repetir-se diferente, revela
os montes tocando o sol (5)
 

entre abismos celestes
para trás dos ombros, as perturbações
e, à frente, o verbo preferir. (6)







[2]

estrelas não adormecem, velam as cores e imagens. (3)
a linguagem flui nas representações (4)
o passado ao repetir-se diferente, revela (5)
a angústia surda (1)

estares perto de ti coloca teus passos na direção certa. (3)
para trás dos ombros, as perturbações (6)
e, à frente, o verbo preferir (6)
que nos chega no momento certo (2)

é no íntimo das veias que agoniza (1)
o gosto de sal. (2)
há habitações fluindo dos teus olhos, percebes? (3)

na água ardente acorda o milagre(2)

o fervor e o júbilo, a ternura, um tempo
e distância não lineares (4)
que crias. aguarda-as, enquanto sentes o aroma
deste dia em que caminhas com o coração (3)

há cidades límpidas além dessa montanha, há outras
luzes, teus tornozelos não te falharão. (3)
cobiça que se fixem, na terra e na água (4)

entre abismos celestes (6)
os montes tocando o sol (5)





Imagem: pintura de Herbert James Draper




OBS: A numeração abaixo remete aos poemas de onde os versos destes dois pot-pourris foram extraídos. Numa espécie de intratextualidade, no pot-pourri eu retomo poemas antigos para escrever o novo.

(1) o quente tom do carmim

(2) num sopro de idéia perambulando

(3) bênção

(4) e, a língua, arde

(5) o pulsar que segreda sem nevoeiro

(6) perturbações


2 comentários

Cássio Amaral

Bem construído e com imagens fortes.

Anônimo

Obrigada, mano, pela leitura e comentário.
Beijo
da Sonia