quarta-feira, 14 de março de 2012

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A DANÇA DOS ARCOS 6 - JANDIRA ZANCHI


A DANÇA DOS ARCOS – A DANÇA DOS ARCOS 

6.

      Alonso reconstruiu o templo. Foi longo o tempo da edificação. Corriam-se os sacerdotes e os anjos, à pressa do plano, amoldando sopros, substituindo os gases, colhendo os frutos. A nave, próxima à oferenda, parecia-se melhor. Arcos e ouro a embalavam, exultantes de encontrá-la viva.
-         A cada algum tempo é necessário um novo misturar de tintas!
    E refrescou-se em outros ventos. Chegar-se tanto que quase se perdera de si. Foram longas as noites passadas para o gesticular das aves. Os rubros batiam asas, afastavam sorrisos, provocavam aplausos.
    Na arquibancada o público exultava. O coro cobria-se de púrpura, dançavam, verdes, as moças de rostos macios, sem que se esperasse, rogavam-se um novo indulto.
     O Príncipe convocou vassalos, teve domínios. Recebeu os convivas, gerou dois ou três filhos. Não assumiu outra esposa porque eram muitas as concubinas e cada uma amassava-lhe o leite tão bem como alguma outra. Foi torneando-se de méritos, enfeites, comprou coroa, deu conselhos. Teve oponentes, mas poucos rivais. Mirava-os em vista turva, podia ouvir-lhes o prensar das botas cavando a terra escura e desgostou-se de sua fortuna.
-         Antes não tivesse visto as linhas dos arcos espremendo-se, despindo-se nas formas.
    Das formas formou-se novamente. Se eram múltiplas... ajeitadas na forma de vaso, acabariam por desprender-se com tanta convicção, que vazariam os deuses.
    Sentou ao lado dos empreiteiros das oficinas. Maravilhou-se com as agulhas e os manuseios das mãos. Exprimiu-se em rezas, orações, louvações, sempre liso de si mesmo.
     Convocou para o rito sagrado. Reuniram as hóstias e dançaram os mitos. Quando começou a riscar o céu, a moça o interrompeu:
-         Deixe as linhas...
-         Esvaziá-las de seus circunspetos. Navegá-las a deriva.
-         Não é certo.
     Acolheu-se ao leito. Furores de sombra denegriram-lhe as boas medidas. Já não havia acordo. Rompeu. Que se cantassem no peito dos bem pequenos. Que se enfurnassem.
      Mediu os passos do terreno. Ali, insossos, demarcados. Era preciso fugir-lhes, estar mais além, à grita.
     Tomou os livros e de tal maneira tentou transformá-los em miragens que por fim descobriu.
-         Meditaram ao longo das causas para justificarem-se de tanta incompreensão. Mais sereno mover-se a cada intervalo, ligeiro e bem rápido, que vão vagando as ondas.... oceânicas, espalmadas, em círculos.

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