quarta-feira, 21 de março de 2012

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A DANÇA DOS ARCOS 7 - JANDIRA ZANCHI


A DANÇA DOS ARCOS - A DANÇA DOS ARCOS

7.
O palácio descobriu-se descoberto quase ao relento. Murchas caiadas de ouro as paredes brancas. Entraram sem pompa.
- São bem consentidos os tetos... seguem-se longos e distanciados – observou Atílio.
- Bem pintados, cheios de boas frestas.
- Tem mesmo um belo jardim.
- Chega a ser amorável.
- Vivia-se em grande luxo
- E talvez pouca piedade.
Esqueciam-se da sombra do Sol e dos orgulhos da noite varridos nas planícies desérticas, desacordados, quando muito, pôr alguns ventos.
Sucediam-se os aposentos. Eram louváveis! Túneis e tonéis de espírito, oratórios, salas de refeições, lavatórios, águas térmicas, jardins suspensos...
- Respirava-se conspirações de ricas mônadas – acatou Atílio.
- Frutíferos os bons príncipes e sua gente.
- Mas, enfim, tinham cozinha e pessoal de serviço.
- Suspeita-se que sim.
E foram ao encalço. Jaziam escuras as curvas paredes pretas. Fuligem e gosto de pouco gosto.
- Para cá se escorreram dos maus humores – certificou-se Amadeu.
- Depositaram a porcaria.
- É grande a lixeira dos reis.
- Nunca vazia...
Nem todos os túmulos tomavam nome. Enfurnavam-se de grandes formas, títulos amarelos, arcos de muitos riscos.
- Como empunhar o esplendor sem falsear o procedimento? – inquiriu Atílio.
- Com pouco fausto. Uma medida de saúde, duas de alegria, quatro de generosidade, cinco de inteligência e pelo menos seis de bom senso.
Cavaram uma fresta na noite e foi a primeira vez que ela apareceu inteira.
- Quem é o santo? – perguntou Amadeu.
- O indiferente. Rico ou pobre, ao relento do talento, esquiva-se de qualquer medalha.
- Só serve a si mesmo.
- Sempre melhor do que cuidar do outro.
O palácio não foi desfeito, mas perdeu-se a dinastia. E mesmo assim anotaram-lhe os nomes, procuraram os endereços, copiaram o uso de suas armas. Sempre que servisse...
Deitaram-se nos melhores leitos. Os vazios eram espessos em muitas curvas, grandes os alvoroços. Não se esquivava de povoar a mente o coro de anjos, adulto e pálido, quase prenhe de evidência.
Não cederam. Abriram-se com cem portas e fecharam cada uma. Trancaram o porto. Enviaram-lhe o furor das dunas brancas. Que partisse, que administrasse os fatos.

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