sábado, 24 de março de 2012

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Marianna

TUDO ACONTECE AO CONTRÁRIO em Marianna: os galos cantam ao cair da noite, os carros avançam de marcha-à-ré e sempre chove pra cima. Quando chove.
Apesar disso, a vida em Marianna é considerada normal por todo mundo. Os relojoeiros atrasam os relógios com naturalidade e as cenouras crescem todas com suas raízes voltadas para o sol, que no verão surge sempre à meia-noite.
Quando nascem, os velhos não dão trabalho algum: sabem todos que em breve chegarão à idade adulta, e que depois disso uma adolescência repleta de surpresas e delícias lhes está reservada. Este, aliás, é o maior orgulho da cidade: o fim da velhice só traz alegrias em Marianna.
O único problema da cidade são os descontentes. Sim, há descontentes em Marianna, aos milhares. Eles reclamam de tudo, não concordam com nada e acham que a vida de verdade está lá fora, além dos muros que cercam a cidade. Por conta disso, a cada ano, muitos partem. E não se dão conta do óbvio: partir de Marianna, por causa da própria natureza da cidade, significa voltar a ela.

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