segunda-feira, 23 de abril de 2012

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poema nove de "hierofania dos dedos"

(quadro de marc chagall, "blue angel", 1973)


9.

gabriel. deixa-me escrever-te um poema. um poema que diga do meu nome, da sabedoria inerente a todas as coisas. dessas pequenas palavras que só os justos conhecem, como se fosse algo imanente ao mundo. e partisse dele. e o rebentasse.

deixa-me ser um rebento azul. anterior à terra e à sementeira das águas. nunca poderei ser mãe. nem pai. apenas um invólucro de giz envolto em mil pontos de luz.

deixa-me escrever-te um poema, como se fosse uma carta. ou um rol de pedidos dirigido às mais altas entidades. nunca perceberei o significado de ser pai ou mãe. ou uma terra aberta no desfloramento da alma.

anuncia o teu amor. anuncia-me. e cai. cai como se fosses único, como se a cor vermelha não te afligisse e visses o homem no lugar do anjo.

Jorge Vicente

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