domingo, 1 de abril de 2012

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Política Linguística (Parte 3 de 3)


Política Linguística (Parte 3 de 3)


A progressão do ensino do português, a nível europeu, deve-se, segundo Solange Parvaux, aos esforços conjugados dos países lusófonos.
A criação de grandes blocos comerciais e culturais como a Mercosul e a CPLP pode dar mais visibilidade internacional a língua portuguesa

A nível de políticas nacionais a autora apresenta várias sugestões: 

a)      Na União Europeia, defender o uso do português e o seu ensino no secundário.
b)      Monitorizar e incrementar o desenvolvimento do ensino de PLE nas universidades, ensino secundário e precoce de acordo com as políticas de ensino dos respectivos países.
c)      Encorajar a produção de material didáctico onde colaborem equipas compostas por elementos de Portugal e dos países onde é ensinada a língua.
d)      Facilitar o intercâmbio de alunos e turmas
e)      Difundir a cultura através de programas culturais desenvolvidos em parceria com os países onde é ensinada a língua.
f)       A formação de professores de português língua estrangeira deve incluir uma reflexão sobre as variantes do português. É importante que os alunos não sejam penalizados quando utilizam uma norma (correcta) diferente do professor. A norma do aluno deve ser respeitada desde que exista coerência entre fonética, grafia, gramática e léxico.

“O ensino do português-língua estrangeira levanta reais problemas pedagógicos nos países onde coexistem professores e métodos portugueses, brasileiros ou africanos, em particular em meio escolar, o que pode ser dissuasivo para os alunos. Em vez de se apoiar nas numerosas convergências linguísticas para encontrar estratégias complementares e enriquecer a pedagogia, o acentuar das divergências prejudica a difusão do português em benefício de línguas como o inglês e o espanhol que, em situações linguísticas e culturais análogas, souberam encontrar soluções.” 

(PARVAUX: 2005; pp. 261) 

 Segundo Ivo Castro (2005; pp.), se aplicarmos o método de Lindley Cintra (situou-se no ponto de vista do padrão oral de Lisboa e descobriu que os dialectos do centro e sul pouco divergiam, no entanto o mesmo não acontecia com os do norte que se afastavam cada vez mais tanto na estrutura como na distância) ao espaço exterior distinguimos 3 círculos concêntricos onde a língua vive em condições progressivamente mais distanciadas da sua variante europeia:

1-      O círculo da emigração. Dentro deste círculo coexistem a emigração de longo curso e a emigração costeira. A primeira refere-se a comunidades que partiram há muito tempo, percorrem uma longa distância. As gerações posteriores estão aculturadas às sociedades onde residem e têm um conhecimento reduzido da língua e cultura portuguesa. A segunda refere-se à população que se dirigiu a países próximos, de fácil regresso, trazendo um capital de experiência e benéfico para a nossa sociedade
2-      O círculo é constituído pelos falantes provenientes dos países descolonizados. Verifica-se o crescimento em Angola e Moçambique da população que adquire o português como língua materna ou segunda.
3-      O terceiro círculo corresponde ao Brasil. Segundo Ivo Castro, uma política da língua que, para a eficácia do ensino, partisse da oralidade adquirida em família mas visasse a aquisição de hábitos culturais mitigaria as ansiedades do professor.
Segundo o mesmo autor, “O Brasil partilhou com Portugal os últimos 500 anos da língua em comum e sob certos aspectos conservou-a melhor do que os portugueses: construções sintácticas que muitos, cá e lá, julgam ser arrojadas novidades brasileiras já estavam no código genético da nossa língua medieval e foram abandonadas pelos portugueses, mas pelos brasileiros não;” (2004; pp. 281) 

Para Eduardo Prado Coelho, falar de políticas da língua é falar de nós próprios, enquanto comunidade e inimigos de nós mesmos, porque deixamos perder um património e que não sabemos definir posições e estratégias para defrontar novos desafios.
Por isso, para o autor, faz sentido falarmos em políticas de língua no plural pois falamos de medidas e, neste caso, de manutenção e divulgação de património relacionado com a definição de um povo.

“O domínio onde é necessário formular políticas actualizadas tem a ver com o facto de existirem novas correntes de imigração (seja africanas, seja brasileiras, que aumentam de um modo impressionante, seja dos países de Leste), com todas as questões que emergem da forma de socialização e marginalização e que já foram expostas nas suas linhas gerais e nos seus casos concretos. Por outro lado, a rotação das gerações dos emigrantes portugueses aconselha a que o ensino do português se faça, não predominantemente em função das comunidades portuguesas, mas em função das expectativas estrangeiras ligadas ao turismo, à cultura e acima de tudo à economia.”

(COELHO:2005,pp. 287)

Parece-nos importante adoptar uma posição de reflexão sobre a evolução que se deu no que consideramos o português.
Segundo Adriano Moreira, devemos partir do conceito de que a língua é nossa para o conceito de que a língua é também nossa.
“(...) julgo que deve ser assumido que grande parte da importância da língua portuguesa – que também é nossa, para voltar ao conceito de Eduardo Lourenço – não resulta da presença e peso de Portugal, resulta, sobretudo, do peso dos países que adoptaram a língua portuguesa”

(MOREIRA: 2005; pp. 290)


António Vitorino (2005:308)  contribui para esta reflexão afirmando o seguinte:

“ É verdade que os ingleses têm uma enorme vantagem comparativa ao serviço da afirmação universal da sua própria língua: é que desde há muito os ingleses não têm uma visão patrimonialista da sua língua. Os ingleses aceitaram que, provavelmente, a vocação universal do inglês comportava um preço a pagar: o de aceitarem e conviverem com a corruptela do próprio inglês decorrente da sua utilização global. “


Além disso, apresenta três desafios que devem suscitar atenção:

1-      De que forma estamos a agir, de forma activa, no enquadramento dos estudantes do programa Easmus
2-      Hoje em dia verifica-se que há uma nova geração de imigração vinda de países do leste da Europa, não se limitando, assim, à existência de correntes migratórias oriundas dos países de expressão oficial portuguesa.
3-       A possibilidade da língua portuguesa ter uma visibilidade acrescida nos próximos anos. A possível passagem do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas permitirá a que o português seja uma língua oficial das Nações Unidas.

Vasco Graça Moura (2005; pp.) contribui com várias perguntas para a construção de estratégias e meios para as políticas de língua, como por exemplo:

a)      Em que locais devem existir delegações do Instituto Camões que ensinem?
b)      O que podemos fazer para estimular, apoiar e prestigiar lusófilos como divulgadores da nossa cultura e língua?
c)      Onde estão os principais mercados para a nossa língua?

“ Uma política da língua tem de identificar essas prioridades e de sacrificar outras situações com menos significado, muito embora deva ponderar aspectos que vão da tradição estabelecida e institucionalizada ao interesse e à procura verdadeiramente existentes.” 

(MOURA: 2005; pp.300)

No aspecto internacional, o Instituto Camões eleva-se com principal referência na política de expansão da língua e cultura portuguesa.
Devem-se-lhe valiosos contributos para a difusão da língua através da criação de centros de língua e leitorados nas mais prestigiadas e universidades estrangeiras.

“ Cooperando com cerca de 200 instituições de ensino superior, distribuídas por todos os continentes, o Instituto Camões promove o ensino e a investigação de e em Língua Portuguesa: cooperação que também implica o apoio à edição de dicionários, à tradução de obras de literatura e de cultura portuguesa em línguas outras, à doação de bibliotecas básicas e/ou especializadas e a concessão de bolsas de estudo para a investigação em Língua Portuguesa.
Paralelamente, respondendo a desafios permanentes dos países onde estamos presentes, tem vindo a crescer a oferta de Cursos de Português – Língua de Trabalho, uma prioridade no presente. Como prioritária é a formação de tradutores para as Organizações Internacionais, especialmente em África e nos novos países que integram a União Europeia. E como prioritária é a oferta, a distância, de programas de formação e a aprendizagem de e em Língua Portuguesa.
Está o Instituto Camões a abraçar estas prioridades.”

(AFONSO: 2005;  pp. 191)

António Vitorino (2005)  acrescenta:
a)      O que é mais importante para a preservação cultural, política, vivencial da língua portuguesa? 
b)      Estaremos condenados ao trilinguismo (francês, inglês, alemão)?
c)      Estaremos dispostos a apostarmos no uso funcional de uma língua única, ou seja o inglês, e numa agilidade na articulação do português com o inglês?


“Vários estudos realizados tanto na Europa na Europa como na América do Norte (Cummins, 1978), (Cummins and Swain, 1986), (Hamers et Blanc, 1983), onde as experiências de escolarização de minorias linguísticas são uma realidade há décadas, vão no sentido de demonstrar que “o apoio ao desenvolvimento da língua materna beneficiará a aprendizagem da língua segunda; o reconhecimento do bilinguismo minoritário das crianças pela escola pode ser uma força positiva no seu desenvolvimento; [e] (...) as capacidades desenvolvidas na língua materna podem facilmente ser transferidas para a língua segunda” (Naysmith, 2002:71).
Assim, quanto mais a escola valorizar, apoiar e desenvolver as línguas e as culturas dos grupos minoritários, particularmente daqueles que se encontram mais marginalizados socialmente, melhor será a sua integração escolar e mais fácil se tornará a aprendizagem da Língua Portuguesa.
Para alguns destes grupos a manutenção das línguas de origem, além de uma valorização pessoal na promoção do bilinguismo, poderá ser encarada como uma porta aberta para um eventual retorno ao país de origem - como acontece em muitos países europeus, cuja política linguística educativa visa favorecer o regresso das populações migrantes que se encontram no seu território aos seus países de origem – mas também a manutenção de laços linguísticos, culturais e afectivos com os respectivos países de emigração”

(MATOS: 2004; pp.27)

Assim, a autora apresenta várias conclusões:
1- A diversificação da oferta de línguas estrangeiras oferecidas aos alunos do ensino básico e secundário.
2- O reforço da formação de professores tanto ao nível inicial como ao nível da formação contínua e especializada, no ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa.
3- A divulgação das experiências já realizadas no sentido de integrar programas de língua e cultura de origem das populações imigradas, promovendo o ensino bilingue, sempre que o contexto escolar o justifique.



Mário Rufino



[3] 170 milhões de falantes, números de 1999, na Europa, América do Sul e Á África, assim como, com menos relevância, Ásia, Oceânia e América do Norte

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