O MOSTRENGO DO BAR
(inspirado
no poema “O mostrengo” de Fernando Pessoa)
O mostrengo que está no
fim do bar
Do canto de breu
ergueu-se a cambalear
À roda da mesa rodou três
vezes
Três vezes rodou a
espumar
E disse: “Quem é que
ousou tragar
As bebidas que eu
encomendo
Para a minha goela sem
fundo?”
E o homem ao balcão disse
rangendo:
“Espere só mais um
segundo!”
“Quem é que me põe neste
alvoroço
Como é que emborco o meu
almoço?”Disse o mostrengo e rodou três vezes
Três vezes rodou sujo e ensosso,
“Quem vem beber onde eu me engrosso
Para que o álcool se desperdice
E eu me enferme moribundo?”
E o homem ao balcão rangeu e disse:
“ Espere só mais um segundo!”
Três vezes à garrafa as mãos prendeu
Três vezes da garrafa as desprendeu
E disse ao fim de ranger três vezes:
“Aqui ao balcão sou mais do que eu
Sou um cliente que quer o bar que é teu;
E mais que o mostrengo que a botelha espreme
E derrama um hálito nauseabundo
Mandam os fãs dos bolos com creme
Que consomem e zarpam num segundo!”
Adelina Velho da Palma
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