quinta-feira, 31 de maio de 2012

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o verso originário - sonia regina




















queria um verso sem verbo.
sem imagem, ou com muitas;
tantas, que a nenhuma se pudesse 
reduzir, amoldar, ou nela caber

assim como uma oração sem ação
ou um sujeito sem traços.
nem tudo, nem nada, um paradoxo;
um contraditório sem oposições;
um significante sem significado
lavrado em nenhuma escritura

talvez um signo não desbravado,
uma natureza primordial que não
se desnuda - porque não traz vestimenta;
que não se veste - porque não tem matéria,
ou pele. nem nada por baixo, ou por cima,
sem dentro, sem fora. sem reflexos,
como uma leitura possível sem remetimentos
- nem a observações sábias nem a suaves
recordações

talvez assim como sílabas claras que se
contivessem em si, desde os primórdios.
um verso sem verbo, de só uma palavra.
o verso primeiro, primitivo, sem pretensões

o verso ab ovo*
: poeta.




* lat:  Desde o ovo; desde o começo

4 comentários

Jorge Xerxes

Sonia,

Um Poema Genial!

"queria um verso sem verbo.
sem imagem, ou com muitas;
tantas, que a nenhuma se pudesse
reduzir, amoldar, ou nela caber"

"um contraditório sem oposições;
um significante sem significado
lavrado em nenhuma escritura"

"...nem nada por baixo, ou por cima,
sem dentro, sem fora. ..."

E a esses dois versos acima, acrescento que me fizeram lembrar as maravilhas da geometria diferencial, que só permitem a compreensão dos profundamente instruídos na ciência da matemática.

http://jorgexerxes.wordpress.com/2011/08/31/garrafa-ks/

Com Um Beijo Fraterno, Jorge

Anônimo

Caramba,Jorge, obrigada!
E eu, sem querer, toquei essas maravilhas da geometria diferencial? é a maravilha do mistério que toca os poetas!

beijos mil
da sonia

andre albuquerque

Um poema-caleidoscópio, a palavra em reflexão total.Parabéns,André

Anônimo

Que bom que gostou, André!
Obrigada pela leitura e comentário, viu?
Bjs da Sonia