Eu vi a menina com estranha bota,
levava numa das mãos espécie rara de flor,
que trazia cuidadosa, junto ao peito.
As cores de suas pétalas, do carpelo, estames,
até mesmo de suas sépalas eram vívidas, vibrantes.
Aquela menina era linda e não interessam,
em absoluto, as cores.
Mas as suas botas de plástico:
elas traziam asas delgadas e translúcidas,
uma partia da superfície canhestra à altura do tornozelo daquele mesmo pé,
outra deixava o plástico direito lá pelo maléolo do outro calçado.
Ah, eu amava aquela menina!
Com a mesma intensidade do meu amor pela vida.
Então eu vi:
um carrapato em cada uma daquelas asas alvas e longas das botas estranhas.
Eles eram ogros vistos assim: de perto.
Ao longe, entretanto,
não nos incomodavam.
Quando nos apercebemos,
sambávamos a um palpite infeliz de Noel,
e eles cravaram as suas esporas naquelas asas.
Subimos às alturas desconcertantes.
As pétalas
– já disse que não interessam as cores –
despedaçavam da flor deixando um rastro efêmero na trajetória do céu,
podia ser visto se alguém estivesse a perscrutar a noite.
E cheguei a pensar em devaneio meu,
não fosse pousarmos leves, úmidos,
junto aos serenos,
quando o dia amanheceu.
www.jorgexerxes.wordpress.com
quinta-feira, 14 de junho de 2012
6
Junto aos serenos
autor(a): Jorge Xerxes
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6 comentários
Jorge: uma bela alegoria , a inocencia que não é pura consegue ver e voar, sobre os mundos.Abraço,André
André,
Agradeço pela leitura e gentileza do seu comentário!
Um Grande Abraço, Jorge
UM DESABAFO:
Acho que ao menos Nós - Fundadores (ativos) e Residentes - deveríamos ler e emitir impressões sobre as postagens do Letras et Cétera.
Cada um de Nós deveria olhar menos para o seu próprio umbigo. Para que a gente não termine com o coração amargurado, como bem escreveu Augusto dos Anjos.
Escrever é partilhar. Partilhar ideias e impressões.
VERSOS ÍNTIMOS
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Uma prosa poética linda leve,delicada e mágica.
Muito grata pela visita ao meu blog poeta.
Gosto de vir aqui porque as postagens são sempre variadas e interessantes. Tenho aprendido muito aqui.
Adorei a referênciaà Augusto dos Anjos. Sou fã deste poeta e adoro esse poema. Abraços.
Isso que é uma verdadeira revelação poética-amorosa captada num instante de amor bastante. Um canto de sereno perfuma os ares. Grande Jorge, Salve Jorge! Abraço
Caro Jorge, bela saudação à vida; o amor semeia a vida.
Abraços,
Tânia.
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