O auditório estava lotado. Mais de 500 pessoas, seguramente.
A vinda do grande Mestre das Palavras havia deixado a região em polvorosa. Ônibus
lotados de estudantes estacionaram na Praça Ângelo Piazera bem antes da
palestra. Os pequenos caminhavam em fila indiana, segurando a cordinha para não
se perderem na multidão, orientados pelas professoras. Câmeras fotográficas,
gravadores e celulares estavam prontos para disparar a qualquer momento.
A espera parecia interminável, tal era a expectativa de
receber um convidado tão ilustre. Até que uma entrada lateral da grande tenda
de lona se abriu e ele entrou, com uma fragilidade cheia de força e uma
presença que tomou conta de todo o espaço. Era ele mesmo, com aqueles cabelos
brancos, os olhos brilhantes e um sorriso doce estampado no rosto, encantado
com tanto carinho.
Foi aí que aquele homem tão admirado, ícone de tantas
gerações, começou a falar de sua vida, da dura experiência no cativeiro, por
defender ideias e ideais de liberdade e justiça social, como jornalista e livre
pensador... Falou de seus desenhos e caricaturas, do limão que transformou em
limonada, ao passar a desenhar e escrever para crianças. Utilizou na prática a
máxima de um lendário revolucionário e provou que não perdeu a ternura,
jamais!...
Estimulou os pais e professores a lerem histórias infantis
para as crianças, alimentando sua ludicidade e conduzindo pelo mundo mágico da
literatura. Que uma das maneiras de se conhecer o mundo e ter respostas para a
vida é mergulhando nos livros.
Aquele homem adorável e carismático, que arrancou risos e
gargalhadas em muitos momentos, também confidenciou detestar gramática e
gramatiquês, com suas regras que engessam os textos e levam para bem longe a
criatividade inerente às crianças... E que a melhor forma de se aprender a ler,
escrever e se expressar, passa pelos livros.
“Uma pessoa que lê está mais aparelhada para a vida. Uma
pessoa semi-analfabeta tem que ser jogador de futebol, ou ganhar na loteria”, disse
ele. E todos concordaram.
Mas, para tristeza de todos, a palestra terminou. Uma fila
imensa se formou, de leitores-admiradores à espera de um autógrafo daquele
homem tão querido por todos. E ele fez questão de atender, um a um...
Até que chegou a hora da imprensa... Também os jornalistas
estavam ali, incondicionalmente rendidos pela simplicidade daquele ícone da
literatura nacional, que também era lido em vários cantos do planeta.
Uma repórter veterana, que também se atreve no universo
literário, expressa sua admiração por ele e sua obra, e é surpreendida com um
abraço e um beijo na mão. Um gesto de um cavalheiro genuíno, da mais alta
estirpe, cada vez mais raro nesses dias áridos do século 21, em que a falta de
gentileza e respeito imperam...
A coletiva de imprensa acabou, mas o rastro luminoso deixado
por Ziraldo, em mais uma de suas visitas a Jaraguá do Sul, ficará para sempre
na memória de todos os que beberam suas palavras, na 6ª Feira do Livro.
Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil., desde 1996.
2 comentários
Sônia,
Gostei Muito do Texto!
Ziraldo merece a homenagem.
Um Beijo, Jorge
Sônia,
lembrar é preservar a nossa história. Muito bom artigo.
Abraços,
Tânia.
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