domingo, 10 de junho de 2012

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O Mestre das Palavras


O auditório estava lotado. Mais de 500 pessoas, seguramente. A vinda do grande Mestre das Palavras havia deixado a região em polvorosa. Ônibus lotados de estudantes estacionaram na Praça Ângelo Piazera bem antes da palestra. Os pequenos caminhavam em fila indiana, segurando a cordinha para não se perderem na multidão, orientados pelas professoras. Câmeras fotográficas, gravadores e celulares estavam prontos para disparar a qualquer momento.
A espera parecia interminável, tal era a expectativa de receber um convidado tão ilustre. Até que uma entrada lateral da grande tenda de lona se abriu e ele entrou, com uma fragilidade cheia de força e uma presença que tomou conta de todo o espaço. Era ele mesmo, com aqueles cabelos brancos, os olhos brilhantes e um sorriso doce estampado no rosto, encantado com tanto carinho.
Foi aí que aquele homem tão admirado, ícone de tantas gerações, começou a falar de sua vida, da dura experiência no cativeiro, por defender ideias e ideais de liberdade e justiça social, como jornalista e livre pensador... Falou de seus desenhos e caricaturas, do limão que transformou em limonada, ao passar a desenhar e escrever para crianças. Utilizou na prática a máxima de um lendário revolucionário e provou que não perdeu a ternura, jamais!...
Estimulou os pais e professores a lerem histórias infantis para as crianças, alimentando sua ludicidade e conduzindo pelo mundo mágico da literatura. Que uma das maneiras de se conhecer o mundo e ter respostas para a vida é mergulhando nos livros.
Aquele homem adorável e carismático, que arrancou risos e gargalhadas em muitos momentos, também confidenciou detestar gramática e gramatiquês, com suas regras que engessam os textos e levam para bem longe a criatividade inerente às crianças... E que a melhor forma de se aprender a ler, escrever e se expressar, passa pelos livros.
“Uma pessoa que lê está mais aparelhada para a vida. Uma pessoa semi-analfabeta tem que ser jogador de futebol, ou ganhar na loteria”, disse ele. E todos concordaram.
Mas, para tristeza de todos, a palestra terminou. Uma fila imensa se formou, de leitores-admiradores à espera de um autógrafo daquele homem tão querido por todos. E ele fez questão de atender, um a um...
Até que chegou a hora da imprensa... Também os jornalistas estavam ali, incondicionalmente rendidos pela simplicidade daquele ícone da literatura nacional, que também era lido em vários cantos do planeta.
Uma repórter veterana, que também se atreve no universo literário, expressa sua admiração por ele e sua obra, e é surpreendida com um abraço e um beijo na mão. Um gesto de um cavalheiro genuíno, da mais alta estirpe, cada vez mais raro nesses dias áridos do século 21, em que a falta de gentileza e respeito imperam...
A coletiva de imprensa acabou, mas o rastro luminoso deixado por Ziraldo, em mais uma de suas visitas a Jaraguá do Sul, ficará para sempre na memória de todos os que beberam suas palavras, na 6ª Feira do Livro.

Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil., desde 1996.

2 comentários

Jorge Xerxes

Sônia,

Gostei Muito do Texto!

Ziraldo merece a homenagem.

Um Beijo, Jorge

Tânia Du Bois

Sônia,
lembrar é preservar a nossa história. Muito bom artigo.
Abraços,
Tânia.