sábado, 23 de junho de 2012

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Vó Bela

                        Para minha avó Isabel Teodomira Pereira


Ainda te vejo terminar os dias
cozendo a colcha de retalho de tua genealogia.
Sabias, sim, os segredos da vida,
única explicação para a transparência de teu olhar...
Entendias também os sortilégios da morte.
Muitos dos teus já tinhas visto partir no nefasto trilho do fim absoluto.
Confesso não ter conhecido quem melhor divagasse entre magos e dragões,
conhecesse os cordéis do seu povo,
que, vestida de santa, ensaiasse noites inteiras os martírios do ser divino.

Usou o apoio imprevisto das estrelas e se fez poetisa.
Recitando os versos de seus heróis sertanejos,
embalaste o sono do pequeno ávido,
e plantaste o sonho que agora luto
para não se esvair.


(do livro Verdes Versos - 2007)

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