Vi ontem o chapéu no chão,
Que o vento o derrubara.
Não imagino quem seja
O dono, nem perguntara.
Prefiro inventar histórias
De onde possa ter saído.
Participado de glórias,
Histórias tristes vivido?
Trancafiado na caixa
Antes que alguém o tirasse,
Fibras de mole tecido,
Em que cabeça pousaste?
Terás ido a uma festa,
Ou de alguém que não o quis,
Sombra à cabeça do asceta
Ou de um qualquer infeliz?
Acenou para a mulher,
Que não o viu por um triz,
Ou foste apanhado no abraço
Caliente da meretriz?
De onde vens?
Pra onde vais?
Rodopiando no mundo
Qual navio em muitos cais.
Terá o chapéu o destino
Daqueles que o carregam
Perdidos, sem rumo e tino
Que à sorte pura se entregam?
Ou ele é que trilha e marca
A sorte dos que são donos,
Como só quem pune a mágoa
De uma vida de abandono?
Eu já não posso saber.
Apenas o vi ao vento,
Tangido sem pretender,
Ser eterno o seu momento
Antes de ir se perder.
1 Comentário
Amplo,as possibilidades da vida e do vasto mundo, tal uma ventania.Parabéns.
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