sábado, 28 de julho de 2012

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O livro

Todos os dias, quando me deslocava para o trabalho, passava em determinado cruzamento. Por estranha coincidência um homem costumava subir pelo passeio oposto e parar numa das esquinas, perto de uma caixa de distribuição de eletricidade. Comecei a reparar nele numa das vezes em que tinha de aguardar pelo sinal verde para os peões e ficava a olhar para o que acontecia.
Pormenores que habitam o nosso quotidiano.
Noutra ocasião parei para tomar qualquer coisa no café fronteiro a essa esquina e tive uma oportunidade para o observar melhor. Aparentava quarenta anos. Vestia informalmente, tinha gestos rápidos e decididos. Havia qualquer coisa nele que me agradava.
Um dia decidi-me, tinha uma folga de uma hora no emprego. Deixei-me ficar. Quando se começou a afastar, pedi a conta e segui-o.
Mantive uma distância prudente. Convinha não levantar suspeitas.
Afastei-me do local onde trabalhava. Para minha surpresa ele estava a fazer o percurso que eu fazia todos os dias, só que no sentido inverso. Fiquei ainda mais desconcertado quando se aproximou do prédio onde moro e entrou no elevador. Vi-o subir e parar precisamente no andar onde fica o meu apartamento.
Já alarmado, subi também mas quando lá cheguei não o vi. Espreitei pelas escadas de segurança, fui a outros andares, voltei lá abaixo mas nada…
Parecia que se tinha volatilizado.
Foi então que decidi usá-lo como personagem numa das minhas histórias. Ou já o era desde o início destas peripécias? Nunca o consegui descobrir.

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