segunda-feira, 30 de julho de 2012

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O massagista carniceiro


Estamos todos habituados a ver, tanto nos Estádios como através da televisão, o futebol rico em gel, marcas desportivas, carros para transportar a ronha de quem levou um sopro e parece que partiu uma perna. Estamos habituados a ver futebol. Mas isto não é REALMENTE o futebol. O verdadeiro jogo cheira a couratos, chouriço assado e é acompanhado pelas minis, uma verdadeira cultura bebível. Aqui se mantém a essência do futebol. Hoje, paga-se para praticar. Quando eu jogava futebol tínhamos (o escândalo!) de ter algum jeito para aquilo. Isso e capacidade de sofrer.
Confesso que mais do que o medo de me magoar era ter de passar pelas mãos daquele massagista. Uma vez tive de ser substituído ainda na primeira parte. Não conseguia pousar o pé  nem calçar a bota. O remédio era sempre o mesmo: dói? Mete gelo. Está partido? Mete gelo.
Mas não é sobre mim o que vou dizer, embora tenha visto o episódio bem de perto.
Num pelado, como já há poucos, um colega levou uma “paulada” de tal forma que se enrolou pelo chão, levantando uma nuvem de pó de onde saiu um profundo e doloroso “AAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIII”
Lembro-me de ter pensado: “já foste!”
Cheguei junto a ele, vi o cartão vermelho dado ao adversário, e disse aquela frase que cai sempre bem: “desviem-se, desviem-se, deixem-no respirar”
O carniceiro que tínhamos como massagista lá chegou…
“ Atão!!! Onde foi?!!”
“No pé direito”, disse o meu colega enquanto as suas mãos escondiam a cara.
O carniceiro começou a mexer-lhe no pé.
“NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOO”
“Achas que está partido?”, perguntou o massagista.
“Não merda!!!! Não é esse pé!!!!! É o “outro” direito!!!!”
Corrigido o erro, puxou da lata de spray milagroso.
Para quem não sabe, o spray parece que espeta da pele ao osso. Antes de desaparecer, a dor estrebucha e castiga.
O carniceiro abanou a lata e carregou no botão e ouviu-se “Pssssssssssssssssss”. O meu colega calou-se. Eu bebia água à espera de que ele fosse substituído. “Já foste…”
De repente, ele tirou as mãos da cara, espreitou para o pé e disse: “Mas que merda é essa!!!! Não está a sair spray nenhum!!!! Estás a fazer Pssssssssssssss com a boca!!!
“Cala-te”, disse o carniceiro. “O spray é bom. É spray espanhol”

O árbitro ria-se com vontade, os adversários riam-se de nós e a lata bem podia ser de laca para o cabelo.
Cinco minutos depois, o meu colega foi substituído.

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