sexta-feira, 31 de agosto de 2012

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Menos óleo de peroba, mais vergonha nessa tua cara



Lendo nos jornais, já na minguante desse mês de agosto de 2012, sobre o julgamento do mensalão – um esquema de corrupção do Executivo denunciado sete anos atrás – é difícil calar ante a minha indignação.

Se por um lado os envolvidos no esquema estão sendo condenados pelos seus crimes, se a imprensa de hoje tem “certa” liberdade para a expressão das ideias em maior sintonia com a gravidade dos fatos, a convalescença social brasileira parece-me ainda ter repercutido pouco frente a apatia dos cidadãos e o sorriso amarelo na cara da classe dominante.

Eu penso ser mesmo inconcebível que o alto nível dos Poderes Executivo e Judiciário – estes senhores que recebem contracheques ordens de grandeza superiores aqueles dos trabalhadores assalariados – esteja dispondo de tanto tempo e energia discutindo erros crassos, práticas internas tão evidentemente criminosas. O desvio de verba pública está anos-luz distante dos padrões mínimos de ética e de conduta profissional aceitáveis para os responsáveis pela administração do país.

Enquanto isso, o trabalhador assalariado – aquele que realmente paga o pão e o circo – sobrevive no limiar da dignidade humana. Convenhamos, a saúde pública, a educação pública, a infra-estrutura (o saneamento básico, a condição das vias e das praças) e a seguridade social mostram sinais inequívocos de sua falência iminente. Sim, estamos verdadeiramente flertando com uma falência múltipla de órgãos. E não adianta tapar o sol com a peneira da estatística, com essa lógica rasteira dos indicadores sociais: “se eu como muito e você come pouco então, na média, nos alimentamos bem.” Parece-me mesmo não termos evoluído muito desde o dia 13 de maio de 1888.

Morando no Rio de Janeiro há pouco mais de um mês, sinto-me ainda assombrado por essa cidade onde os contrastes mostram-se tão evidentes. Creio ainda não ter desenvolvido o sentido da visão seletiva. Por isso vejo o cartão postal mais bonito do Brasil maculado pela pior das chagas, pelo esgotamento do principal recurso de uma nação: o ser humano.

Precisamos urgentemente de coragem, de atitude, de um resgate da ética; de seres humanos realmente comprometidos uns com os outros – interessados em deixar um legado digno para os nossos filhos e para a nossa nação. Lugar de bandido é na cadeia, não no Planalto.



1 Comentário

andre albuquerque

Jorge: A capacidade de indignar-se é saudável; é o que faz de um grupo de pessoas um povo,uma nação.Parabéns.