15.
O violeta da tarde despia as nuvens e,
afoito pelos semitons róseos de algumas conchinhas na praia, divagava seu
sorriso na espuma do mar. Ariane deixava-se embalar por esses fascículos de
vida quase marítimos e lineares,
- Sinto
como se visse um esteta profundo, convulso, despedir-se. Quem era esse facínora?
- Talvez
nunca saibamos. A angústia se ampara em tantos pormenores, em tantos invisíveis
desvios, em tão desencontradas desilusões, em muitos sentimentos olvidados e
enganados, em medos e solicitudes tão amplos e de tão poucos remédios, que
quase todos os que arranham seus lamentos e injurias não saberiam explicá-la.
Sua pulsão é a da alma, de seus recantos mais remotos e inesperados, uns
labirintos quase doces e crispados em suas ventas. Para sará-la só a
felicidade, a recomposição do pequeno, da boa acolhida no seio de um meio
saudável, de um querer.
- O bem e
o mal não se explicam. São difusos e inconstantes, parece-me que a causa da
injúria, do mal estar, é tão somente uma decomposição do fato, alguma
desarmonia de execução física ou psíquica.
-
Saberemos, com vagar, do que se trata. À medida que nos formamos e compomos o
nosso estar, adquirimos uma vidência para além do bem e do mal, a real
instância da necessidade, sua clarividência.
- Muitas
perguntas partirão sem respostas, diluídas na interrogação.
-
Fenecerão, é fato. São outros tempos, sem mitos, sem segredos, grudados no
infinito, no múltiplo, no varrer da verdade cósmica que se aproxima.
- A
onipotência do grande predador nos abandona. Estamos, com o resto da criação,
de joelhos. Conseguiremos superar tantas
estórias de lutas em busca de alimento, por deus, à mercê dos desejos, ansiosos
de perdão. A inteligência pode ser um presente envenenado, porém, permite que
nos inclinemos para o pagão no anjo, que estudemos a inclinação da boa sombra.
Podemos desarticular o instante, metrificar o infinito, copiarmos o sucesso dos
astros de longo período na seqüência principal e na superfície do ser e, para
além do emocional, procurar viver a alegria do bom espírito.
- Uma
criação de águias com bicos de andorinhas curvando-se ante a areia escorrida no
relógio do tempo. Nenhum grito, adeus à indignação, ao fortuito e ao eterno de
teu instante. Ralo e rimado pelo rugir da métrica um destino maleável na dança
dos arcos dos sonhos. Consciência, sim, consciência, colocada em torno da
imersão, mágica e astuta, plenitude.
Consciência lúdica, analítica, perturbadora, como uma última defesa ante
a violência/sobrevivência, escudo e delícia dessa contagem contaminadora do
tempo.
- E o
silêncio. Amo-o, voraz, núbil e caliente em um deserto, comprimindo-se pela
terra, namorado do divino. Não existe começo ou fim, antes, um fio entendido
pelo tempo no Corpo, mutável na forma que te nomina.
- Movidos
nas plumas marítimas de outonos primaveris, seremos lírios e aves,
colorindo-nos como os frutos amarelos que brindam esse
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