terça-feira, 18 de setembro de 2012

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Afago

- Imagem: Lucian Freud -  


Ele ressonava, de modo que pude surpreendê-lo com o afago delicado na nuca suada. Parecia ser sempre assim: quando ansiávamos algo, vinha a tal necessidade do corpo do outro, como se daí fosse provável extrair não o calor, ou a aspereza da pele, mas um pouco da nossa própria subsistência, do afeto que nos garantiria um pouco mais de tempo, sim, essa urgência toda a nos impelir ao toque. Da janela, todas as tardes, era possível sentir o dia inflamar-se de um calor que segregava essas horas insondáveis à beira do sono, quando tudo o que tínhamos era que aguardar que esses corpos aí arrancassem um do outro um certo gozo sofrível, quase às raias da inanição. Para então desabarmos, como se ruisse a carne. Nessas horas me esquecia de quem eu era, se homem ou mulher, para experimentar daquele ranço à beira do sono. Ali mesmo. E desconfiava se de mim não se esvaia a vida, sem que eu sequer a sentisse. Beijei-lhe a fronte, então. Um gesto providencial, como se a reafirmar minha própria existência ao seu lado. E notei que ele ainda dormia. Num timbre aveludado, quase um sopro a afetar-lhe naquela iminência insuspeita, tão imerso que ia: “vamos, acorde”, eu disse...

2 comentários

Jorge Xerxes

Fábio,

Um Excelente Texto!

Grande Sensibilidade.

Um Forte Abraço, Jorge

Fábio de Souza

Obrigado, Jorge. Que bom que tenha gostado. Um forte abraço.

Fábio de Souza