- Imagem: Lucian Freud -
Ele ressonava,
de modo que pude surpreendê-lo com o afago delicado na nuca suada. Parecia ser
sempre assim: quando ansiávamos algo, vinha a tal necessidade do corpo do
outro, como se daí fosse provável extrair não o calor, ou a aspereza da pele,
mas um pouco da nossa própria subsistência, do afeto que nos garantiria um
pouco mais de tempo, sim, essa urgência toda a nos impelir ao toque. Da janela,
todas as tardes, era possível sentir o dia inflamar-se de um calor que
segregava essas horas insondáveis à beira do sono, quando tudo o que tínhamos
era que aguardar que esses corpos aí arrancassem um do outro um certo gozo
sofrível, quase às raias da inanição. Para então desabarmos, como se ruisse a
carne. Nessas horas me esquecia de quem eu era, se homem ou mulher, para
experimentar daquele ranço à beira do sono. Ali mesmo. E desconfiava se de mim
não se esvaia a vida, sem que eu sequer a sentisse. Beijei-lhe a fronte, então.
Um gesto providencial, como se a reafirmar minha própria existência ao seu lado.
E notei que ele ainda dormia. Num timbre aveludado, quase um sopro a afetar-lhe
naquela iminência insuspeita, tão imerso que ia: “vamos, acorde”, eu disse...
2 comentários
Fábio,
Um Excelente Texto!
Grande Sensibilidade.
Um Forte Abraço, Jorge
Obrigado, Jorge. Que bom que tenha gostado. Um forte abraço.
Fábio de Souza
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