Quando
cheguei a Zurique tudo estava muito bem planejado pelo meu patrão. No banco, após
as identificações necessárias, fiz a transferência do dinheiro para uma conta
no Pará. Voltei ao Brasil direto para o Rio de Janeiro. Estava curioso para ver
as posses de meu patrão. Como ele previra,
todas estavam confiscadas pelo governo. Fiquei por lá durante dois anos.
Nesse tempo, os companheiros que haviam ficado naquela praia quando saí da
ilha, me procuraram. Por algum motivo, que não quis saber, eles escaparam da
polícia. Repartimos o dinheiro, como se havia combinado, e eles sumiram de
minha vida. Passei a viajar. Visitei o Brasil inteiro esperando uma resposta de
Deus para minha pergunta. Ia à Igreja, rezava, ajudava as entidades de
caridade, ajudava creches, meninos que viviam na rua pedindo, eu os vestia e
dava o que comer. Algumas vezes ia mais fundo, procurava saber onde moravam e
com quem moravam. Se não tinham ninguém por si, dava um jeito de colocar ao
abrigo de alguém, pagava para cuidarem das crianças. Jovens que queriam sair
das drogas, e que os pais não tinham dinheiro para internamento adequado, eu os
internava em clinicas e acompanhava sua recuperação. Fiz campanhas gigantescas
para o combate às drogas. Isso tudo no
anonimato, não gostava de aparecer. Até hoje tem pessoas que cuidam de meninos
e meninas por minha conta, em vários locais do Brasil. Também resolvi manter
creches que atendessem crianças de mães pobres, que não tinham onde deixar os
filhos para trabalhar. Mas até aquele
momento, ainda não havia encontrado a resposta a minha pergunta feita a Deus
naquele barco.
Passaram-se
dez anos desde que meu patrão morreu.
Um
dia cheguei a essa cidade. Pequena cidade, mas muito linda. Certa manhã olhava
pela janela do hotel e vi você, com um sorriso nos lábios, vindo não sei de
onde, indo não sei para onde. Pensei: “aí vai alguém feliz com sua existência,
sem dores na consciência, feliz por viver”. Por vários dias fiquei
observando-a. Notei que descia de uma rua lateral a do hotel. Passava em frente
à janela de meu quarto e entrava em uma porta do prédio ao lado. Imaginei: ‘Deve
trabalhar ali’. Passei a observar você, plantado ali na praça em frente onde
você trabalhava. Olhava-a na janela onde passava todo o tempo concentrada e de cabeça baixa, sem olhar para
a rua ou para os lados.
Após
muito pensar, um dia decidi abordá-la:
- Senhorita, por favor! Pode
dizer onde fica o Banco do Brasil?
E o resto você já sabe. Soube
que Deus havia me perdoado no dia em que você disse sim, para compartilhar sua
vida comigo. Você foi o Anjo Mensageiro que Deus colocou para me dizer do Seu
perdão.
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