quarta-feira, 17 de outubro de 2012

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Compensação - Capítulo VIII


 

Quando cheguei a Zurique tudo estava muito bem planejado pelo meu patrão. No banco, após as identificações necessárias, fiz a transferência do dinheiro para uma conta no Pará. Voltei ao Brasil direto para o Rio de Janeiro. Estava curioso para ver as posses de meu patrão. Como ele previra,  todas estavam confiscadas pelo governo. Fiquei por lá durante dois anos. Nesse tempo, os companheiros que haviam ficado naquela praia quando saí da ilha, me procuraram. Por algum motivo, que não quis saber, eles escaparam da polícia. Repartimos o dinheiro, como se havia combinado, e eles sumiram de minha vida. Passei a viajar. Visitei o Brasil inteiro esperando uma resposta de Deus para minha pergunta. Ia à Igreja, rezava, ajudava as entidades de caridade, ajudava creches, meninos que viviam na rua pedindo, eu os vestia e dava o que comer. Algumas vezes ia mais fundo, procurava saber onde moravam e com quem moravam. Se não tinham ninguém por si, dava um jeito de colocar ao abrigo de alguém, pagava para cuidarem das crianças. Jovens que queriam sair das drogas, e que os pais não tinham dinheiro para internamento adequado, eu os internava em clinicas e acompanhava sua recuperação. Fiz campanhas gigantescas para o combate às drogas. Isso tudo  no anonimato, não gostava de aparecer. Até hoje tem pessoas que cuidam de meninos e meninas por minha conta, em vários locais do Brasil. Também resolvi manter creches que atendessem crianças de mães pobres, que não tinham onde deixar os filhos para trabalhar.  Mas até aquele momento, ainda não havia encontrado a resposta a minha pergunta feita a Deus naquele barco.
Passaram-se dez anos desde que meu patrão morreu.
Um dia cheguei a essa cidade. Pequena cidade, mas muito linda. Certa manhã olhava pela janela do hotel e vi você, com um sorriso nos lábios, vindo não sei de onde, indo não sei para onde. Pensei: “aí vai alguém feliz com sua existência, sem dores na consciência, feliz por viver”. Por vários dias fiquei observando-a. Notei que descia de uma rua lateral a do hotel. Passava em frente à janela de meu quarto e entrava em uma porta do prédio ao lado. Imaginei: ‘Deve trabalhar ali’. Passei a observar você, plantado ali na praça em frente onde você trabalhava. Olhava-a na janela onde passava todo o tempo  concentrada e de cabeça baixa, sem olhar para a rua ou para os lados.
Após muito pensar, um dia decidi abordá-la:
- Senhorita, por favor! Pode dizer onde fica o Banco do Brasil?
E o resto você já sabe. Soube que Deus havia me perdoado no dia em que você disse sim, para compartilhar sua vida comigo. Você foi o Anjo Mensageiro que Deus colocou para me dizer do Seu perdão.

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