quarta-feira, 31 de outubro de 2012

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Pequenas histórias 27

 
 
 
 
 
 
 
                                                                 Sagitta 6

Viu a flecha flamejante lançada por Apolo em sua direção. Imprimiu velocidade aos pés. Dava a impressão de estarem amarrados a uma bola de chumbo. Tinha dificuldade em erguer os pés. Com dificuldade, numa lentidão horrorosa fazia o máximo para fugir. Se ao menos alcançasse a esquina... Nisso a flecha perfurou a carne. Uma queimação tomou conta de todo o corpo. Numa lentidão a carne foi estraçalhada atingindo os ossos. Parecia uma guitarra sendo solada num extremo infinito. Caiu. Melhor. Aos pedaços seu corpo despencou em direção a ele que estava dormindo. Preocupou-se com o baque e como conseguiria juntar os pedaços dilacerados pela flecha. Seus olhos úmidos de terror pressentiam o momento exato do encontro dele com ele mesmo. O momento... Acordou sobressaltado. Empapado de suor, sentou na cama. Procurou no escuro distinguir onde estava. Acendeu a luz. Respirou com folga. Sonhara. Fora um sonho tão real a ponto de sentir dores pelo corpo todo.
Compreendeu. Sua busca chegava ao término. Compreendia claramente. Sagitta estava nele assim como ele estava em Sagitta.Isto é, seu destino era não poder nunca se livrar de Sagitta. Estava preso assim como estava preso ao destino infinito das sensações.

pastorelli

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