No passado mês de Setembro, publiquei um ebook com vários contos que foram lidos, pela primeira vez, na Letras et cetera. Devido à forte aceitação que tiveram decidi que valia a pena publicá-los no mesmo suporte em que a revista Letras et cetera é publicada.
Todos os textos foram enriquecidos com o talento fotográfico de Marco Rufino.
Tive o enorme prazer de juntar ao livro o prefácio de Sónia Regina, editora da revista.
Deixo-vos o seu belíssimo texto.
Cumprimentos
Mário Rufino
domingo, 28 de outubro de 2012
3
Prefácio de Sónia Regina a "O fim da inocência e outros contos"
autor(a): Mário Rufino
Prefácio
A imagem invertida da capa nos proporciona outro
ponto de vista, não obstante os mesmos elementos. As crianças, ao brincarem de
ver o mundo de cabeça para baixo, manipulam a realidade a seu bel prazer: assim
dominam os horrores que a cena contiver ou os controlam, alocando-os nos personagens
de má índole oferecidos pelas histórias infantis.
O
escritor é um criador não apenas de conceitos e objetos, principalmente
de novos esquemas de pensamento. No último conto Mario escreve, em um segundo
tempo, as reflexões do personagem:
Espero pela luz da manhã. Sei pedaços de uma história que talvez seja a
minha, talvez seja a da menina que me afaga o cabelo todas as manhãs, talvez
seja a da senhora que me traz a comida ao quarto. Uma história bonita que se
apaga.[Tempo em branco]
O artista tenta decifrar o mundo e sua
sensibilidade vai se valer da criatividade e do talento para representá-lo:
Não conseguiu
quebrar a forçada ligação que o mantinha agarrado pela vida. Era um movimento
que haveria de romper com um estado lastimável para entrar num período de
descanso. Ele procurava quebrar a visceral inércia do corpo em tomar nas mãos a
decisão de se soltar. O velho estava preso em si mesmo. [Pulseira
Electrónica]
A arte concilia a visão adulta com
o olhar inocente que contacta a sensação primeira:
Um homem mantinha-se
imóvel, de pé, a observar o fluxo de gente que vinha no seu sentido.
A inacção
interrogava a velocidade das pessoas que passavam. Era uma questão mecânica.
Aquela peça havia deixado de funcionar como previsto. As pessoas desviaram-se e
rejeitaram a anomalia. Não podia ser de outra forma. [Last man standing]
O escritor é um artista que trabalha
no campo da linguagem, no campo do símbolo. Suas
palavras têm significado e referem-se ao sensível. Mobilizando suas experiências e o
espírito inventivo, é o sujeito que parte de um conhecimento
objetivo e atinge o objeto através da mensagem - embora não explícita – levada
ao leitor por suas palavras encadeadas.
Antropomorfizar uma árvore é uma das
excelentes estratégias de Mário:
(...) agitando os seus longos braços raivosos,
irados por estar presa ao chão (...)correndo atrás de nós, com vontade de nos
agarrar entre os seus braços, para nos chicotear por termos, durante tanto
tempo, arrancado os frutos à sua carne. [O Fim da Inocência]
Os
contos e as resenhas que Mario tem publicado em nossa revista são fruto do trabalho intelectual sobre um conjunto de sensações. Ao permitir ao cérebro trabalhar perceptivamente,
entretanto, ele deixa que se manifeste a consciência pura, o puro ver – o olhar
da inocência que, para a arte, não finda: Num ramo cabem todas as palavras [As flores], como ele mesmo escreveu.
Parabenizamos Mário Rufino pela bela jornada
com a palavra. Gratos por sua presença em Letras et cetera e convite para
escrever este prefácio, que tanto nos honrou, desejamos muito sucesso nesta
nova fase.
Sonia Regina
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3 comentários
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Mario,
Parabéns pelo Seu Livro!
Um Grande Abraço,
Jorge
Obrigado, Jorge!
Abraço
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