O CARRO DO SOL - LUNA
7.
Mona iluminou uma noite vertical e
sem estrelas. Nenhum vento, nada que respirasse ou transpirasse. Desfeito de sopro
vital o reino era transpassado por séculos de silêncio. Um frio branqueava o
céu, moroso de faíscas chumbo, pousado nas copas das vertiginosas árvores, os
troncos compridos descascando-se em brios e mistérios.
Guiada por um fio de lua Mona
percorreu toda a extensão da floresta aberta. Foram muitos os metros, às
centenas juraria, por entre as árvores cada vez mais longas, numa encosta suave
às vezes, lento declive outras, contornos, curvas, uma mansidão de sono, o
surdo consentir da noite.
- Se essa não é a morte, é sua
afilhada dileta. Vaporosa e sufocante, nua.
A neblina baixava com um certeiro alvo na alma e a jovem movia-se por
ela quase se esquecida de si mesma. Sentia-a física e moralmente de uma
densidade vazia, aérea, consumida em um frescor doce, sereno, altivo. Nenhum medo, a plena sensação de proteção mesmo
quando não conseguiu enxergar mais do que a neblina.
Envolveu-se no seu frescor gelado. Subiu a encosta e subiu e subiu...
talvez tivesse perdido os sentidos por alguns instantes, só lembrava da
encosta, a neblina ficando rarefeita, novamente as copas das árvores muito
longe, o espaço entre elas se abrindo, os troncos tão finos que pareciam não
ter sustentação. A floresta, porém, foi se transformando.
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