quarta-feira, 14 de novembro de 2012

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LUNA 7 - JANDIRA ZANCHI



O CARRO DO SOL  -  LUNA  

7.


         Mona iluminou uma noite vertical e sem estrelas. Nenhum vento, nada que respirasse ou transpirasse. Desfeito de sopro vital o reino era transpassado por séculos de silêncio. Um frio branqueava o céu, moroso de faíscas chumbo, pousado nas copas das vertiginosas árvores, os troncos compridos descascando-se em brios e mistérios.

       Guiada por um fio de lua Mona percorreu toda a extensão da floresta aberta. Foram muitos os metros, às centenas juraria, por entre as árvores cada vez mais longas, numa encosta suave às vezes, lento declive outras, contornos, curvas, uma mansidão de sono, o surdo consentir da noite.

- Se essa não é a morte, é sua afilhada dileta. Vaporosa e sufocante, nua.

      A neblina baixava com um certeiro alvo na alma e a jovem movia-se por ela quase se esquecida de si mesma. Sentia-a física e moralmente de uma densidade vazia, aérea, consumida em um frescor doce, sereno, altivo.  Nenhum medo, a plena sensação de proteção mesmo quando não conseguiu enxergar mais do que a neblina.

     Envolveu-se no seu frescor gelado. Subiu a encosta e subiu e subiu... talvez tivesse perdido os sentidos por alguns instantes, só lembrava da encosta, a neblina ficando rarefeita, novamente as copas das árvores muito longe, o espaço entre elas se abrindo, os troncos tão finos que pareciam não ter sustentação. A floresta, porém, foi se transformando.


 

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