sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

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TRILOGIA GAZA - II


A praça

Estaria reservado no escaninho dos deuses
tão impensada tormenta?

Movimento primevo:
revoada dos pombos.

Quebrado o instante,
brancas penas restaram na praça.

Crianças absortas,
festejando o dia,
imaginaram dragões e fadas.

Anciões se entreolharam
e cismaram com o céu...

Ato contínuo:
zunido, estrondo,
perplexidade.

Malfadado encontro:
pó e silêncio.

Os primeiros gritos,
embotados pela poeira do subentendido.

O som antecipou
a imagem suspeitada.

Fez-se a desolação
nos rostos que se ergueram.

Os primeiros gestos, lentos,
não acompanharam o frenesi do pensamento.

Desespero.

– Como é possível
minar tanta água
desses rostos de areia?


Coube ao acaso
a seleção dos fortes
(que recolheram os corpos).

Ao poema cabe
despejar sobre o chão,
e na cara dos facínoras,
uma resma de dúvidas.

De algum ponto,
cabe o recomeço.


 Jorge Elias Neto

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