quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

2

Cinábrio

Miro viajava num ônibus. A maioria dos passageiros era composta por sexagenários, exceto Miro e os dois guias, um homem e uma mulher, na casa dos quarenta anos, assim como ele próprio. Havia pessoas de ambos os sexos. Formavam uma espécie de grupo em excursão ou expedição na busca por rochas; certo mineral de característica metálica.

Enquanto o ônibus seguia em direção à reserva (ou floresta), onde coletariam algumas dessas rochas, os guias versavam sobre o mineral. Era um metal de grande interesse, porém não se tratava de gema, preciosa. A forma na qual o encontrariam era distinta daquela usualmente conhecida: o metal já processado, livre de impurezas e da terra.

Nesse momento os guias procuravam descrever como era esse mineral, de forma a facilitar-lhes a identificação. Este consistia em rochas de uma tonalidade marrom avermelhada, espécie de mistura de terra com arenito, encontradas na natureza em torrões, aproximadamente do tamanho de um hemisfério cerebral, ligeiramente densas, passíveis de se esfarelarem e apresentando circunvoluções.

Miro trazia consigo cinco rochas, as quais ele acreditava serem do referido mineral. Três rochas foram distribuídas para os participantes da expedição, passadas de uns aos outros, para a familiarização. Outra rocha foi parar nas mãos de um dos guias e a quinta delas se encontrava com Miro. O guia, após observação minuciosa do exemplar que estava consigo, alertou-lhes que aquelas não eram rochas do mineral de interesse.

De súbito, as cinco rochas se transformaram em serpentes, como se desenrolassem vivas, de uma condição ulterior onde se encontravam aninhadas, animadas a partir da forma mineral. Assustados, eles largaram as cinco serpentes que então circulavam pelo corredor do ônibus, deflagrando grande apreensão.

Para o espanto de Miro, todas as serpentes rastejavam em sua direção, como se fosse ele a presa. Armavam botes e tentavam lhe atacar em voos imprecisos. Miro agarrou uma das serpentes no ar, a poucos centímetros de sua face. Ele a segurava próximo da sua  cabeça. Ela tentava, em vão, morder os seus pulsos, flexível e escorregadia, botando para fora da boca aquela sua língua afilada, bipartida.

A essa altura o ônibus estava parado, na margem da estrada, ao lado de uma clareira. Era fim de tarde, próximo a hora do crepúsculo. Miro desceu do veículo com as serpentes a lhe perseguirem. Ele tentava desvencilhar-se delas usando um ramo mais robusto que encontrou largado nos arredores. Com muito custo, conseguiu dispersá-las mata adentro. Voltou então para o ônibus e seguiram viagem.

Miro despertou da noite de sono extenuado, o corpo e a cabeça lhe pesavam muito: um sonho verdadeiramente marcante; embora ele não tenha conseguido compreender, de imediato, o significado.

Miro havia deixado para trás rochas e serpentes. Avançava em direção ao simbolismo do número cinco.


2 comentários

andre albuquerque

A busca do conhecimento pode ser perigosa , até fatal.Que o digam o Miro e o sonho.Um belo texto,que me fez lembrar Jung e a alquimia.

Jorge Xerxes

André,

Grato pela Tua Atenção e Comentário!

Um Grande Abraço,

Jorge