quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

0

O CARRO DO SOL 5 - JANDIRA ZANCHI



 
 
O CARRO DO SOL
5.

         Era transparente a citadina força da tarde. Alado não a discutia. Mergulhado no brilho do mármore, satisfazia-se do largo horizonte, sempre traspassado nas redomas de relva e árvores floridas.
     Os tons escuros e abertos de verde e amarelo que preenchiam, com tanta onipotência, a escrita clássica do jardim, levantavam o mago para uma tranqüila esperança. Era ainda mais seguro de si agora que a insegurança  o vestia nubente ao pé de Mona. O deus louro a instruiria no Templo de Ouro e pela casa espalhava-se finas sedas de vernáculos bem construídos, polidos objetos de ângulos abstratos e outras tantas afeições da luz.
       Serenava enquanto perdia-se pelos novos movimentos. Seguir o curso desse Sol lhe seria, talvez, um pouco incomodo, mas, se da noite extraíra mil e uma constelações... era seguir o Pássaro. Em terras de águas, o aéreo sedimentaria as frestas do Arco.
         Não se podia discutir a beleza, pensava, ainda mais quando a forma ostentava-se para tão além, quase tangente da linguagem do deus. Era quase polido o feitio desse templo, que o tornaria, antes, um espectador da idéia, do que o contumaz namorado da lei. Pela via dourada, ia percebendo, o homem poderia descansar de si mesmo e poderia libertar o âmago de sua força e criatividade, se abstendo do ego, que se muralha e validez de sobrevivência, era escura máscara na apreensão dos arcos.
         Para validar um condutor do Carro do Sol espalharia na sina da noite o alegre compasso das vertigens aéreas. Permitir-se-ia um relaxar, quase temerário, das angústias das desfeitas da matéria, redundante entropia de tantos ensejos. Não descuidava de ser a mente depositária da ascensão nessa bravata cuspida na desigualdade do signo da pirâmide. E, quantas vezes repetiu-lhe a Águia a página inteira das vitórias desprovidas de campeões, era mister que dos ombros da matriz extraíssem os ventos róseos e lisos das grandes visagens, das maneiras fluídas e aspiradas dos abençoados do Cordão de Apolo.  E sendo assim, seu braço de forte acolheria a nova face da consciência. Se o fulgor dessa Era poderia ser apreendido nos olhos de Mona... Alado daria o selo do bom movimento.

Seja o primeiro a comentar: