sábado, 30 de março de 2013

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Desconstruir é esconder, e não matar, o autor.







Hoje, em Portugal, assiste-se à desconstrução do poder económico, político e social.
A transferência de responsabilidades do Estado, figura central, para o mercado, figura fragmentada, permite a vigência de regras com autor indefinido.
A regra, ou sua ausência, não é perfilhada por ninguém. Em última análise, remete-se a criação da mesma para uma entidade abstracta como " mercado" ou "sistema".
O liberalismo, ao contrário da regulamentação, permite afirmar algo e o seu contrário, pois não há um rosto, uma entidade, um responsável a quem se pergunte a razão da mudança.
Ao cidadão, é retirado o interlocutor. A palavra vale por si, é comanditária, e não tem um emissor definido. A palavra remete para divindades pagãs, a que o homem, por sobrevivência, se sujeita e implora.
Refiro uma regra quando, em verdade, deveria referir a desconstrução da mesma em tantas possibilidades quantos os intervenientes na referida abstracção.
A figura reguladora desaparece. O liberalismo, na sua essência, implica a destruição de uma figura central. Neste caso, o Estado.
A dinâmica social acompanha essa fragmentação. A desagregação acontece por mimese.
O individualismo, como oposição e não complemento, confronta os objectivos de uma sociedade solidária.
A rejeição dessa abstracção produz inadaptação e múltiplas periferias de centros em permanente desconstrução.
O indivíduo fecha-se em si mesmo. É obrigado a sair da sua zona de conforto e a "caçar" fora dessa área. As defesas primárias acentuam-se. Não olha para o Outro com empatia, mas antes o vê como adversário que deve ser vencido. Este instinto está sempre presente. É intrínseco à Humanidade. A fragmentação eleva-o a aceitável; categoriza-o como "ambição".
No entanto, a desconstrução não acontece como idealizada.
A necessidade de controlo de um sistema, neste caso de um sistema indefinido, leva a que os intervenientes nas decisões substituam um centro por outros.

Nunca deixa de haver um centro. Multiplicam-se como células terroristas.

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