quarta-feira, 13 de março de 2013

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FASCINAÇÃO 1 - JANDIRA ZANCHI


Passo a apresentar alguns poemas de amor, ou mais apropriadamente, de paixão, escritos no começo do ano 90. Muito ritmicos, são o começo da minha visão do arquétipo masculino que explorei em alguns personagens que depois se chamaram Alonso, Atilio e que, acredito, sempre perseguirei. O amor, tema maior da poesia, é também sua maior e talvez única visão.




 Quando sussurram as pétalas dos teus lábios
– palavras -  me crava, em gotas espessas,
um vinagre de amor não resolvido
estagnações não fazem canções.

Quando me perfumam olvidos desses negros olhos
- faíscas apagadas do paraíso que não se abriu -
só lembro cravos, só vejo trilhas espessas de
 vermelhos vermelhos vermelhos
cravos vermelhos, pálidos de fascinação

que se faz tarde
silêncio em meu coração
e só beijo em meus cravos
uma saudade que se fez cravo
que se fez cravo.
  

Quando uivo urros secos para a lua que em tantas noites
 teima em obscurecer o céu, seco lágrimas de um coração
 acelerado sempre a assentar domínios, decidir desígnios,
 esquentar delírios....

quando se faz neblina nas noites de descaso e vigília, 
transformo vultos em passos que me aquietam, 
presenças que se adensam, pois não me contaram 
os limites e os concretos e aprendi ainda em consciência 
inteireza de meu ego...

enquanto as estrelas, antigas companheiras, ficam cada vez mais nuas,
 umedeço um lábio sedento de sonhos e fantasmas,
 ardente de brasas perfuradoras
 – se o desejo não é o princípio e não pode ser o fim, 
é o eterno bálsamo, enigma ou estigma, 
fomentador  impiedoso das madrugadas insones, 
da eterna teimosia de viver...


passei por cada cravo
um gosto de mel e hortelã
percorri em cada um
                     a seiva do meu desejo
o grito do meu amor
são teus como sou tua
e entram na atmosfera
seco silvestre do teu espaço
como um carinho de amante insone
como o cravo que agrava
 – crava –  a seiva da paixão.





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