terça-feira, 9 de abril de 2013

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Pequenas histórias 53

 
 
 
 
Olhou as horas


 

Olhou as horas no relógio novo que ganhara no Natal. Sete horas e cinqüenta e oito minutos. Ainda não é o momento de ir ao banheiro. Só na hora do expediente, disse mentalmente. Sete horas e cinqüenta e nove minutos do terceiro dia do ano novo, ano de dois mil e oito que já parece velho, como disse uma poeta amiga numa crônica. Só que ele em muitas crônicas já escrevera: só mudamos o calendário na parede, pois o resto é tudo igual, não muda e, se muda é um mudar invisivelmente invisível que nem nossos sentimentos sentem. Não há mais aquela expectativa de novo, de refazer o refeito para se ter o velho numa embalagem atraente, que pelo menos dê a certeza abstrata que estamos caminhando num novo completamente novo. Os enfeites natalinos acumulam o pó das ilusões frustradas nos brilhos dos abraços mecânicos e enfadonhos. Aquela expectativa de realizarmos o irrealizável a cada começo de ano, não tem mais tanto significado, tanto empenho em acontecer. Talvez porque o ser humano não tem a paciência de conseguir as coisas em longo prazo. Quer tudo rapidamente, que o milagre seja feito de um dia para o outro. Quando o relógio mover o ponteiro no dia trinta e um de dezembro, no primeiro minuto do ano novo já quer que a mudança aconteça concretamente. Não sabe que para que isso possa acontecer, ele tem que ter no coração muito amor, paciência, deixar de ser individualista, ser mais comunitário, mais amigo, mesmo dos inimigos...
Bom, mas isso é bater na mesma tecla entra ano e sai ano. 

pastorelli

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