quinta-feira, 11 de abril de 2013

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TEMPOS

Seriam nossos os tempos passados entre terras estranhas onde nos perdemos
era apenas o começo da caminhada onde as horas não existiam e exibíamos
a disposição do animal feito com a pedra e a cerda e a corda nos puxando fora
como se desde o início estivéssemos marcados para sermos o medo vivenciado
personificados andamos no rumo perdido das estrelas em nossos movimentos
apostando trajetos em busca do que nos sobreviveria a comida água arbustos
rasteiras plantas e raízes amargas como se do doce conhecêssemos nada
nos deteria se a vida se punha à frente de onde estava quente ou mais farta
a mesa e comíamos o chão e o pó da terra nos servia e nos cobria a pele seca

onde estivemos nessa terra conquistada no esforço com que submetemos povos
primitivos dos nossos conhecimentos e nossa ciência se pôs a serviço guerras
entre raças desconhecemos a humanidade como requisito para sobrevivermos
em paz e na graça em que uns riem e todos dão risadas não não somos bons
somos o povo que conquista e na ponta da nossa lança a flâmula triste avisa
sermos poderosos e a terra é nossa no que alcançamos e temos os serviços
dos que não contém seus desejos na vingança e na solerte roleta que gira
como azares e sortes lançadas aos ventos somos os ventos que anunciam
a chegada dos pós dos tempos e o que temos de maior na poeira nos olhos

dos lugares viemos há tanto tempo esquecemos a travessia e o deserto azedo
com que nossos dedos tocaram as feridas abertas e o sangue não estancou
porque quente a pele e crestada e incrustada a pedra sob a língua nada disse
sobre os orientes e os ocidentes e sobre encima e embaixo aqui e antes agora
o destino se completa na travessura do menino entre a rua e a casa alcança
o lado por onde sai brinca e busca não o silêncio que desse tem ciência
barulho com que explodem idas e vindas prestando homenagens fortes
aos fracos de corpos e espíritos deles disseram a vida seria poupada e dada
em pagamento das promessas divinas recolocadas na pedra em que apresenta
a sina estabelecida desde que apostou suas fichas no desatino da conquista

nossas malas são pesadas em lembranças e algaravias com que espantamos
o tédio de tamanha viagem entre florestas e desertos os rios singrados oradas
aras de tantos sacrifícios e os panos cobrindo os restos dos que nos deixaram
na invocação e nas provocações com que os estrangeiros eram vistos longe
de onde estávamos víamos as imagens e as armazenamos em caixas abertas
espiando as miragens confundimos as águas e os ares entrecruzadas telas
nos colocando com os pés nas nuvens e os pés no chão e nos desfazendo
como se desfazem as figuras criadas apenas na imaginação e coragem

quando completamos a volta entendemos geograficamente o lugar do início
olhamos uns os outros e rimos da nossa desgraça só havia isso conhecido
e tanto foi singrar os mares vagar os rios navegar os lagos correr terras
acima abaixo e aos lados subindo e descendo depressões e geleiras áridas
porções e as mesmas poeiras sobre os nossos olhos sim a cegueira correta
das perguntas e respostas os mosaicos faltando partes anagramas avisos
sobre telas e as palavras modificadas em mitificações primárias horas
perdidas em inúteis caminhadas de tantas conquistas escritas em livros

o saber cientificado as provas testemunhadas e os aconselhamentos familiares
nossas heranças genéticas transfiguradas em privações e dores hordas de iguais
sobre a terra analisando o solo a colheita feita o armazenamento docas guardam
as cargas a serem transportadas: de lá vem alguma coisa que será paga
com outra coisa que daqui irá e nas duas pontas pontos de horrores cores
diversas por onde as moedas transitam ao fim da íris e os potes cheios
repetirão o retinir dos metais atraídos e as forças eternizadas em papéis

estaremos ao longe buscando respostas pilhas pilhas e pilhas de escritos
nos serão lançados sobre a mente que sente o empuxo da corrente e fecha
as escotilhas por onde poderíamos ver o céu anilado o anel no dedo do douto
graduado ser de tantos saberes e do que sabe aplica e cobra a aplicação artes
antes fossem heróis de histórias em quadrinhos pródigos em sobrevidas ávidos
das glórias terrenas férteis e não efêmeras porque permanecem na nave
lançada ao espaço levando o desenho e a voz com a mensagem: estamos aqui
onde a seta aponta e a nave não aporta em lugar algum e viaja devagar vazio
o espaço permite a passagem e o escuro se pergunta sobre a sua presença
não enxerga o desenho nem escuta a voz baixa no medo de ser reconhecida

estivemos tantas vezes em cada volta completada nenhuma novidade deuses
aflitos em indefinições: aparecer ou não dizer que existem persistente dúvida
que nos faz orar em cada noite pedido e necessidade acolhidos em vergonha
de não poder cumprir com nossas obrigações terrenas de tintas e roupas lívidas
faces buscando luzes nas máquinas postas em cada porta números mágicos
trágicas criaturas crentes no esplendor do milagre não acontecido vendido
como ter estado aqui e agora o anunciado não cumprido e o comprimento
da linha imaginária que traçamos em limites e fronteiras entre o meu
e o resto arrestados arrastados arrostados em nome das regras para que sejamos
livres entre paredes sem portas e janelas saídas e entradas perpendiculares

fomos os primeiros a entender que aqui estávamos - e os únicos - foi a vantagem
sobre os outros seres vivos e inanimados as plantas restaram plantadas e animais
foram postos sob a nossa guarda serviços e os astros nos obedecem imaginários
poderes descartados na primeira eclipse no que o tempo nos guarda e mostra
em cada ciclo de plantações frios e calores secas e chuvas somos calendários
sendentários que se repetem não temos a chave e não abrimos portas
buscamos em nós a renovação da espécie que se degrada no tempo
em que nos permitimos dizer vivos vividos vívidos corpos oxidantes terminativos
sem que as tarefas sejam completadas deixamos o encargo para os sucessores
e eles para os seus e sucessivamente deixamos para os pósteros e nada acontece

como sucessores do trajeto conhecedores dos caminhos e conquistadores espaciais
temos direitos sagrados e pernsonalizados de dizer o que pensamos rir das agressões
a que somos submetidos em gerações e a continuar a busca que levou nossos primeiros
a empreender a primeira viagem atrás dos alimentos da segurança de voltar ao ponto
e ver que tudo era igual ignaro o espírito que exigiria outra volta postiça face endeusada
de artistas cabalísticos em espetáculos pobres de imaginação e artifícios esquecemos
as músicas os cantos e silenciosos ficamos nos corpos sobre a pedra que se move
mostras as entranhas da montanha plantas andam sobre suas raízes os bichos
nos olham e dizem bom dia então sabemos que afinal se inicia outra época imprevista.

(Pedro Du Bois, inédito)

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♥♥♥♥♥♂♥♥♥♥♥

A Malu tem um cancro na conassa