sábado, 25 de maio de 2013

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Viagens - Capítulo IV


Em minhas viagens a trabalho fazendo pesquisas para o jornal, encontrei um local muito pitoresco e agradável no Paraná, Brasil, onde morava uma família de interioranos muito peculiar. Principalmente o ancião da família.
Seu Gervásio era um dos moradores mais antigos daquele rincão localizado  em um dos menores municípios do Estado. Para chegar a casa dele não havia estrada para veículos automotores. Só carro de boi ou a cavalo. Mas, quando lá se chegava o trato ao visitante era algo incomum. Já no velho portão de ripas escuras e quase caindo, Seu Gervásio dava as boas vindas, com aquele largo sorriso mostrando o único dente, remanescente de longos anos de maus tratos na dentuça. Afinal, Seu Gervásio nasceu, cresceu, casou, teve uma prole invejável, tudo isso sem sair dali do cantinho, que ele chamava de seu. Nasceram os  filhos, netos, bisnetos, e ele sempre ali naquele sítio incrustado no fim do mundo.
Quando eu o conheci, ele já estava doente. Mas não sabia o que era, nem a extensão da doença. Nunca fora ao médico. Foi necessário muito esforço da família preocupada, para conseguir tirá-lo das lidas da roça e levá-lo à cidade para fazer os exames. Seu Gervásio era teimoso como uma mula.
Antes dos fatos que vou narrar, já havia ido várias vezes a casa dele. Gostava do desfiar das histórias que ele contava. Era um número muito grande de causos e acontecimentos, contados na velha varanda quase caindo, comendo pipoca estourada na banha de porco, ou o bolinho de fubá quentinho que Dona Gertrudes, a bem humorada esposa de Seu Gervásio, servia em uma desbeiçada bacia de alumínio. E o chá de capim santo quase fervendo.
Seu Gervásio e a família faziam-me perder de vista a hora de voltar para casa. Ele com sua risada desdentada e fala mansa, os outros porque queriam me ouvir, também, falar sobre minhas andanças nas estradas empoeiradas. E o tempo passava sem que ninguém se desse conta.

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