Em minhas viagens a trabalho
fazendo pesquisas para o jornal, encontrei um local muito pitoresco e agradável
no Paraná, Brasil, onde morava uma família de interioranos muito peculiar.
Principalmente o ancião da família.
Seu Gervásio era um dos moradores
mais antigos daquele rincão localizado em
um dos menores municípios do Estado. Para chegar a casa dele não havia estrada
para veículos automotores. Só carro de boi ou a cavalo. Mas, quando lá se
chegava o trato ao visitante era algo incomum. Já no velho portão de ripas
escuras e quase caindo, Seu Gervásio dava as boas vindas, com aquele largo
sorriso mostrando o único dente, remanescente de longos anos de maus tratos na
dentuça. Afinal, Seu Gervásio nasceu, cresceu, casou, teve uma prole invejável,
tudo isso sem sair dali do cantinho, que ele chamava de seu. Nasceram os filhos, netos,
bisnetos, e ele sempre ali naquele sítio incrustado no fim do mundo.
Quando eu o conheci, ele já
estava doente. Mas não sabia o que era, nem a extensão da doença. Nunca fora ao
médico. Foi necessário muito esforço da família preocupada, para conseguir
tirá-lo das lidas da roça e levá-lo à cidade para fazer os exames. Seu Gervásio
era teimoso como uma mula.
Antes dos fatos que vou narrar,
já havia ido várias vezes a casa dele. Gostava do desfiar das histórias que ele
contava. Era um número muito grande de causos e acontecimentos, contados na
velha varanda quase caindo, comendo pipoca estourada na banha de porco, ou o
bolinho de fubá quentinho que Dona Gertrudes, a bem humorada esposa de Seu
Gervásio, servia em uma desbeiçada bacia de alumínio. E o chá de capim santo
quase fervendo.
Seu Gervásio e a família
faziam-me perder de vista a hora de voltar para casa. Ele com sua risada
desdentada e fala mansa, os outros porque queriam me ouvir, também, falar sobre
minhas andanças nas estradas empoeiradas. E o tempo passava sem que ninguém se
desse conta.
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