O relógio marcava 17h45. Alice
se apressou em sair da rede social, não sem antes “curtir” a confirmação dos
amigos e colegas da faculdade que iriam na passeata. Se enrolou na Bandeira do
Brasil, pegou a sombrinha e foi, rumo à Praça, cumprir o papel de cidadã. A
barriga de sete meses de gravidez não a intimidou. Pelo contrário. Queria um
futuro melhor para o filho que carregava, um país com mais oportunidades,
investimentos em educação, transporte e acessibilidade, saúde, segurança e
infraestrutura.
Ao chegar, os amigos logo
fizeram bloco de proteção ao redor de Alice. Queriam garantir que ela e o filho
estariam seguros, caso os ânimos se exaltassem. Todas as gerações e segmentos
sociais estavam lá. Alice se sentia participando de algo grandioso, apesar de
ainda não saber direito o que iria acontecer.
Empunhando cartazes que
exigiam mudanças, como “Abaixo a corrupção!”, “Redução nos preços das
passagens, já!”, “Queremos mais investimentos em saúde e educação” e “Redução
na carga tributária”, os manifestantes gritavam palavras de ordem. Com as caras
pintadas de verde-amarelo e tremulando a Bandeira Nacional. O grupo aumentava à
medida que avançava, rumo ao paço municipal. A chuva apertou ainda mais.
Passaram a ser milhares. Os
que iam na frente começaram a puxar o coro do Hino Nacional, e logo todos se sentiram
contagiados. A Pátria Amada Brasil despertou finalmente de seu berço esplêndido
e provou que seus filhos não fogem à luta!
Estamos vivendo um momento
histórico! Daqui a alguns anos, tudo o que está acontecendo vai estar nos
livros de História do Brasil, como um dos maiores levantes populares que se viu
desde 1500 – pensou Alice, sentindo o coração bater mais forte. A Terra
Brasilis segue abundante em riquezas, com seu clima tropical, solo fértil,
parques industriais e criatividade nas áreas de tecnologia e design. Porém, com
péssima distribuição de renda e desvios vergonhosos de recursos públicos –
disse para si mesma.
A marcha seguia ordeira, até
que um grupo de baderneiros se infiltrou. Atiraram objetos em prédios públicos
e começaram a arrombar e saquear lojas. A Polícia interveio com spray de
pimenta.Começou o corre-corre. Assustada, a universitária se apressa em escapar
das bombas de efeito moral, sente que a bolsa rompe e pede por socorro:
Por favor, minha bolsa rompeu!
Alguém me ajuda? – grita, desesperada. Uma enfermeira presente na manifestação
prontamente a atende. O parto teve de ser feito a poucos metros dali, em pleno
asfalto. Um choro de nenê se faz ouvir pouco depois. Era um menino!
Meu filho nasce junto com um
Novo Brasil. É a esperança de um futuro melhor, que também está nascendo hoje –
diz Alice, enquanto chora e ri ao mesmo tempo.
Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e desde 1996 radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil.
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