sexta-feira, 28 de junho de 2013

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A MANIFESTAÇÃO - SÔNIA PILLON

     O relógio marcava 17h45. Alice se apressou em sair da rede social, não sem antes “curtir” a confirmação dos amigos e colegas da faculdade que iriam na passeata. Se enrolou na Bandeira do Brasil, pegou a sombrinha e foi, rumo à Praça, cumprir o papel de cidadã. A barriga de sete meses de gravidez não a intimidou. Pelo contrário. Queria um futuro melhor para o filho que carregava, um país com mais oportunidades, investimentos em educação, transporte e acessibilidade, saúde, segurança e infraestrutura.
Ao chegar, os amigos logo fizeram bloco de proteção ao redor de Alice. Queriam garantir que ela e o filho estariam seguros, caso os ânimos se exaltassem. Todas as gerações e segmentos sociais estavam lá. Alice se sentia participando de algo grandioso, apesar de ainda não saber direito o que iria acontecer.

     Empunhando cartazes que exigiam mudanças, como “Abaixo a corrupção!”, “Redução nos preços das passagens, já!”, “Queremos mais investimentos em saúde e educação” e “Redução na carga tributária”, os manifestantes gritavam palavras de ordem. Com as caras pintadas de verde-amarelo e tremulando a Bandeira Nacional. O grupo aumentava à medida que avançava, rumo ao paço municipal. A chuva apertou ainda mais.

     Passaram a ser milhares. Os que iam na frente começaram a puxar o coro do Hino Nacional, e logo todos se sentiram contagiados. A Pátria Amada Brasil despertou finalmente de seu berço esplêndido e provou que seus filhos não fogem à luta!

     Estamos vivendo um momento histórico! Daqui a alguns anos, tudo o que está acontecendo vai estar nos livros de História do Brasil, como um dos maiores levantes populares que se viu desde 1500 – pensou Alice, sentindo o coração bater mais forte. A Terra Brasilis segue abundante em riquezas, com seu clima tropical, solo fértil, parques industriais e criatividade nas áreas de tecnologia e design. Porém, com péssima distribuição de renda e desvios vergonhosos de recursos públicos – disse para si mesma.

     A marcha seguia ordeira, até que um grupo de baderneiros se infiltrou. Atiraram objetos em prédios públicos e começaram a arrombar e saquear lojas. A Polícia interveio com spray de pimenta.Começou o corre-corre. Assustada, a universitária se apressa em escapar das bombas de efeito moral, sente que a bolsa rompe e pede por socorro:
Por favor, minha bolsa rompeu! Alguém me ajuda? – grita, desesperada. Uma enfermeira presente na manifestação prontamente a atende. O parto teve de ser feito a poucos metros dali, em pleno asfalto. Um choro de nenê se faz ouvir pouco depois. Era um menino!
Meu filho nasce junto com um Novo Brasil. É a esperança de um futuro melhor, que também está nascendo hoje – diz Alice, enquanto chora e ri ao mesmo tempo.

Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e desde 1996 radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil.

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